Guardas-florestais em greve lamentam ser "polícia criminal mais mal paga em Portugal"
Os guardas-florestais estão hoje em greve para exigir aumentos salariais, alegando ser "a polícia criminal mais mal paga em Portugal", que no início da carreira recebe "pouco mais do que o salário mínimo nacional".
André Pagaime é guarda-florestal da Guarda Nacional Republicana (GNR) desde 2019 e recebe "entre 790 a 800 e poucos euros" por mês, disse à Lusa, sublinhando ser "pouco mais do que o salário mínimo nacional", que é atualmente de 705 euros.
Segundo o jovem colocado no destacamento da GNR do Montijo, a aposentação para os guardas-florestais chega mais tarde e a reforma é quase "700 ou 800 euros" abaixo de outros colegas militares que trabalham ao seu lado e com quem fazem patrulhas.
Estas são algumas das razões que levaram André Pagaime a participar na manifestação que decorreu ao final da manhã de hoje em frente do Ministério da Administração Interna (MAI), para exigir do Governo a abertura de um processo negocial para conseguir melhores condições de trabalho.
"A diferença salarial, a falta de suplementos, a reforma que leva a que um guarda-florestal saia para a reforma com 800 euros, o que é uma diferença abissal para outros órgãos de policia criminal", enumerou.
"Nós somos a policia criminal mais mal paga em Portugal, os que saem mais tarde para a reforma e com menos", disse à Lusa André Pagaime.
Segundo relatos de alguns guardas-florestais que falaram com a Lusa, as reformas são muito inferiores à de colegas: "A diferença para a reforma de um colega militar que trabalha ao nosso lado é de, no mínimo, 600 euros, quando não é de 700 ou 800 euros", disse André Pagaime.
"São soldados que trabalham ao nosso lado, muitas vezes fazem patrulhas connosco e recebem mais 300 euros normalmente [de salário] e na reforma mais 600, 700 ou 800 euros", resumiu, defendendo que a "diferença não se justifica".
Uma das razões para a diferença salarial passa por não terem qualquer suplemento, como acontece com os outros órgãos de investigação criminal.
"Nós não recebemos suplemento para investigação. Não recebemos para patrulha, escala ou risco", denunciou.
A situação dos guardas-florestais motivou uma reunião, a 20 de maio, entre a Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS) e "o ministro da Administração Interna, que disse que compreendia a situação, tendo ficado agendado novo encontro para três semanas depois", o que ainda não aconteceu, disse à Lusa a delegada sindical Elisabete Gonçalves.
Além da manifestação, a FNSTFPS convocou também uma greve para o dia de hoje que, segundo Elisabete Gonçalves, "está a ter uma adesão de 95% a nível nacional".
A realização de uma greve num dos dias em que o país está em situação de contingência devido ao risco elevado de incêndio foi alvo de criticas, que nem o sindicato nem os guardas-florestais aceitam.
O ministro da Administração Interna defendeu, na quinta-feira, que "há momentos e momentos" para exercer o direito à greve e manifestação.
À Lusa, Elisabete Gonçalves referiu que o trabalho dos guardas florestais é fiscalizar 'a priori' se a legislação está a ser aplicada.
"Esta fiscalização tem a ver com a politica de ordenamento de território que é feito a jusante", sublinhou a sindicalista.
Para André Pagaime as declarações do ministro vieram "pôr mais gasolina no fogo": "Nós não somos bombeiros, nós somos fiscais".
"O nosso papel é de fiscalização durante todo o ano. E se as pessoas dizem que deveríamos estar a trabalhar, então porque é que guardas-florestais não trabalham aos feriados, nem depois das cinco da tarde. Ora não há incêndios à noite?", questionou André Pagaime, explicando que o trabalho de fiscalização é para verificar se, por exemplo, "o arvoredo está a distância das habitações".
O pré-aviso de greve foi marcado a 5 de julho, "muito antes" de decretado a situação de contingência, criticou.
Também Elisabete Gonçalves defendeu que o MAI tinha tido tempo para convocar o sindicato e impedir a realização da manifestação e da greve de hoje.
Atualmente, a GNR conta com cerca de 500 guardas-florestais ao serviço, que têm como missão fiscalizar e investigar os ilícitos nos domínios florestal, caça e pesca.
Os 500 guardas-florestais estão integrados no Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR).
Portugal Continental está em situação de contingência devido às previsões meteorológicas, com temperaturas que podem ultrapassar os 45º em algumas partes do país, e ao risco de incêndio.