Marcelo Rebelo de Sousa considera que Montenegro pode unir PSD e sistema político "se está a compor"
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considera que Luís Montenegro está a fazer "um esforço como não se via há muito tempo" para unir o PSD e que o sistema político "se está a compor".
Em entrevista ao presidente do conselho de administração do grupo Impresa, Francisco Pinto Balsemão, para o episódio de hoje do 'podcast' "Deixar o mundo melhor", o chefe de Estado recorda que foi alertando nos últimos anos que "o sistema político estava desequilibrado" e afirma: "Eu acho que se está a compor".
"Por um lado, era muito importante que houvesse uma área de poder forte, e essa área de poder, a partir de determinada altura, passou a ser fraca, minada por divergências, muitas delas insuperáveis entre o partido do Governo e os apoiantes", aponta, referindo-se à chamada "Geringonça" composta por PS e pelos partidos à sua esquerda.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "os portugueses resolveram" esse problema dando maioria absoluta aos socialistas nas legislativas de 30 de janeiro deste ano.
"Mas depois havia um problema à direita", prossegue, sustentando que o afastamento de PSD e CDS-PP após a governação chefiada por Pedro Passos Coelho levou a uma "multiplicação de partidos a partir do PSD" -- Chega, Iniciativa Liberal e Aliança -- "e de repente são cinco no lugar de dois".
O Presidente da República acrescenta que, neste contexto, "o centro-direita para subir ao poder teria de se federar, de encontrar soluções com uma liderança muito forte, que só poderia ser do partido mais forte desde sempre, que é o PSD", o que qualifica como "tarefa difícil".
Interrogado por Balsemão se vê Luís Montenegro como uma boa solução para o PSD, Marcelo Rebelo de Sousa responde: "Eu não gosto de comentar soluções partidárias, acho que não cabe ao Presidente comentar partidos. Agora, o que eu achei, ao receber a nova direção, testemunhei que foi feito um esforço como não se via há muito tempo no PSD -- não é total, não é a 100%, mas é um esforço muito grande -- de federar pessoas que andavam desavindas ou separadas há muito tempo".
"O PSD tinha uma característica, que bem conhecemos: é que podiam andar à bofetada, e até era o aspeto de haver sempre alternativas a si próprio, mas na hora da verdade unia-se. Isso deixou de existir a partir de determinado momento. Parece ser um começo de caminho este [de Luís Montenegro], e é o único caminho para poder liderar uma reconstrução laboriosa, difícil, complicada, mas que é boa para o sistema", conclui.
Luís Montenegro obteve 72,5% dos votos nas diretas de 28 de maio, em que defrontou Jorge Moreira da Silva, e assumiu funções como presidente no 40.º Congresso do PSD, que se realizou entre 01 e 03 de julho, no Porto, substituindo Rui Rio, que liderou o partido desde janeiro de 2018.
Em 05 de julho, o Presidente da República recebeu Luís Montenegro em audiência no Palácio de Belém, acompanhado por uma delegação composta por Paulo Rangel, Margarida Balseiro Lopes e Hugo Soares.
Nesta entrevista a Balsemão, o chefe de Estado assume como "deveres" do seu segundo mandato assegurar que "a maioria absoluta faz tudo o que está ao seu alcance para tirar proveito de recursos raros que existem daqui até 2025/2026" vindos da União Europeia e, por outro lado, que "quem lidera a oposição no centro-direita faz tudo para ter uma fórmula forte em condições de ser alternativa para suceder a uma realidade que um destes dias está com oito anos ou dez anos".
"Precisamos à direita ou no centro direita de quem recupere uma capacidade federadora e se apresente em condições de poder ser Governo em Portugal", reforça.
Sobre a anterior liderança do PSD, de Rui Rio, Marcelo Rebelo de Sousa declara: "Temos de admitir que ela acabou por enfrentar uma situação que herdou em parte, que foi a implosão do PSD, implodiu, naquela altura. E depois teve de gerir isso permanentemente, com clivagens muito fortes, na oposição".
Questionado se entende que o Chega surgiu a partir do PSD, o Presidente da República responde que sim, "é um partido a partir do PSD também", com "uma base muito forte evangélica", mas que herdou do PSD "uma área que alguns chamavam social-populista, ou social-contestatária".
De acordo com o chefe de Estado, quem formou a Iniciativa Liberal "também deixou de se reconhecer no PSD, por achar que o PSD não estava tão liberal quanto tinha estado na governação anterior", e apontou que "além disso, ainda saiu [do PSD] a Aliança", que foi fundada e liderada por Pedro Santana Lopes.