Dúvidas
Como todos os seres pensantes, tenho dúvidas. Nem sempre tenho a certeza sobre as minhas conclusões, e questiono frequentemente as minhas opções. Dito isto, gostava de ter explicações para muitas das opções tomadas, em termos de turismo, nesta ilha e nesta região…
Por exemplo, gostava que me explicassem a ênfase na construção de novas unidades hoteleiras quando já se viu que esta política só fomenta a canibalização dos preços e – a prazo – uma diminuição na qualidade dos visitantes.
Gostava que me explicassem a fixação no mercado de cruzeiros como uma panaceia, quando já se viu que – pelo menos alguns – são a concentração de tudo o que há de pior na oferta Madeira… concentração da oferta nas mãos do operador, esmagar de margens, concorrência desleal, promoção de ilegalidades. Tudo por um cliente que passa umas horas na ilha, e que frequentemente deixa aqui muito pouco (já vi discussões sobre o preço de um café…).
Gostava muito que me explicassem em que medida sobrecarregar um aeroporto sob pressão com as centenas de passageiros de um turnaround é uma boa opção… ou se se trata apenas de inflacionar os resultados de uma APRAM inoperante e incapaz de decidir em função da cidade e da região em que está integrada. Por exemplo, porque continua o estacionamento do cais 8 a estar às moscas quando era uma óptima solução para os autocarros que entopem o centro da cidade? Não seria esta uma forma de gerar alguma receita extra para os Portos, e de facilitar a vida a agências, motoristas e cidadãos – para não falar do ambiente?
Adorava que me explicassem a fixação num modelo de serviço aéreo que já se demonstrou se caro, pouco competitivo – e que traz os clientes errados para a ilha e para a região… Vi fotos – que preferia não ter visto – de clientes acabados de chegar na última das low cost coqueluche a revirar os caixotes de lixo do aeroporto à procura de um resto de comida/bebida… ou a dormir no chão do aeroporto. Será que é com este tipo de cliente que queremos preencher os preciosos slots do aeroporto?
Será mesmo que um teleférico no Curral é mesmo o que precisamos para assegurar o futuro da Região? Ou uma estrada nas Ginjas? Mais cimento? Mais um monstro na paisagem? Será que os ganhos (de alguns…) a curto prazo justificam – mais uma vez – o hipotecar do futuro e a sustentabilidade – económica, social e ambiental – da Madeira e do Porto Santo? Será que é mesmo isto que queremos deixar às gerações futuras?