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Projeto criado nos Açores quer ajudar pescadores a monitorizar aparelhos de pesca a partir do telemóvel

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Um projeto, com sede na ilha Terceira, nos Açores, pretende ajudar os pescadores a monitorizarem redes de pesca e outros aparelhos, através de um telemóvel, combatendo a poluição de plásticos nos oceanos, revelou hoje o promotor.

"Nós sabemos que cerca de 10% das redes de pesca são perdidas no mar. O projeto tem uma contribuição enorme. Tem um impacto ambiental, pela recuperação da rede, o que permite minimizar o plástico no mar", afirmou, em declarações aos jornalistas, Nuno Cota, proprietário da empresa Solvit, líder do consórcio do projeto Custodian.

O empresário falava, em Angra do Heroísmo, à margem das comemorações do segundo aniversário da inauguração do Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira (Terinov), onde a empresa, criada há seis anos, se instalou.

A Solvit lidera um consórcio que integra o Terinov, mas também o Air Centre, sedeado no parque, a empresa Lotaçor, que gere as lotas dos Açores, o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), a Docapesca, a UAVision e a Universidade Técnica Nacional da Noruega.

O projeto é financiado pelo fundo europeu EEA Grants, com verbas da Noruega, Finlândia, Islândia, e tem disponível um montante de cerca de 900 mil euros, para implementar um sistema de monitorização em 18 meses.

"O projeto consiste em que desenvolver uma infraestrutura, não é só um dispositivo, é uma infraestrutura, que, além de permitir fazer a monitorização das boias dos pescadores, permite também fazer a deteção da perda de redes de pesca ou de outras artes de pesca", explicou Nuno Cota, referindo como exemplo os cofres e gaiolas para apanha de marisco e polvos.

O consórcio pretende criar uma rede de comunicações, totalmente autónoma, sem custos de operação, para "desenvolver dispositivos de baixo custo, muito simples, para poderem ser usados pelos pescadores e armadores".

O dispositivo vai permitir "monitorizar permanentemente" os aparelhos de pesca e alertar os pescadores numa "situação de desprendimento das redes", para que possam ser recuperadas.

"Os pescadores terão ao seu dispor um dispositivo que todos eles já usam hoje em dia, que é um telemóvel e, com base no telemóvel, conseguirão chegar onde têm as redes. O telemóvel vai apresentar um mapa, com uma interface muito simples, e conseguem localizar as suas boias, localizar as redes perdidas e ser informados de todo o estado das suas artes de pesca", explicou o proprietário da Solvit.

Para além do impacto ambiental, o projeto tem também um impacto económico para os pescadores, segundo Nuno Cota.

"Essa redução das artes de pesca perdidas permite aumentar o rendimento das pescas e aumentar o lucro que existe nas pescas e, portanto, reduzir basicamente o custo operacional de uma infraestrutura de pesca", salientou.

A ideia foi "muito bem recebida" pelos pescadores dos Açores, que identificaram a necessidade de um sistema de monitorização dos aparelhos de pesca, que tivesse um custo acessível.

"O nosso objetivo é que cada um desses dispositivos ande entre os 30 e os 40 euros, porque só assim se torna atrativo para um pescador de pequena dimensão", frisou o empresário.

O Custodian arrancou no dia 01 de julho e o consórcio estima ter a infraestrutura a funcionar "no final de 2023".

Os projetos-piloto vão começar nos Açores, mas o objetivo é expandir o sistema para outras partes do mundo e já há interesse no continente português e na Noruega.

"Temos os parceiros noruegueses que também estão interessados em haja um piloto na Noruega e que se possa expandir para o resto da Europa, em tudo quanto sejam países que tenham atividade piscatória, que têm os mesmos problemas que nós temos nós", adiantou Nuno Cota.