Agência de aviação da UE admite que fadiga no sector pode ser "ameaça à segurança"
A Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) disse hoje "monitorizar ativamente" a atual pressão nos aeroportos europeus, reconhecendo que a fadiga dos trabalhadores, pela falta de recursos humanos e técnicos, pode ser "uma ameaça à segurança".
"A EASA está a monitorizar ativamente a situação nos aeroportos europeus pois estamos bem conscientes de que a fadiga e o 'stress' dentro de qualquer parte do sistema de aviação podem potencialmente constituir uma ameaça à segurança, particularmente se houver um impacto direto ou indireto em funções críticas para a segurança, tais como os pilotos", indica a agência da UE, numa resposta escrita enviada à agência Lusa.
Vincando estar "em contacto com todos os Estados-membros", a EASA reconhece que, "uma vez que a densa rede europeia de voos significa que qualquer problema num aeroporto tem rapidamente um efeito de arrastamento noutros locais", pelo que está a trabalhar com os países "para compreender melhor os pormenores da situação e avaliar o impacto mais amplo na segurança de voo".
Para tal, a agência europeia está a "analisar estudos de casos específicos, por exemplo, o aeroporto de Schiphol, em Amesterdão", que já anunciou que vai limitar o número de voos pela falta de pessoal.
"Com base neste e noutros contributos, trabalharemos com os Estados-membros e os intervenientes da indústria para pôr em prática as ações adequadas", refere a EASA à Lusa.
Uma dessas ações é a criação de um Boletim de Informação de Segurança, com diretrizes uniformizadas aos países da UE, que segundo a EASA poderia "ser potencialmente utilizada neste contexto".
A covid-19 causou uma contração histórica na indústria aeronáutica europeia, que está agora a recuperar apesar do impacto da guerra da Ucrânia na procura.
Depois de as companhias aéreas e os aeroportos terem dispensado milhares de trabalhadores devido à pandemia, a retoma inesperada este verão tem gerado um pouco por toda a Europa situações como tempos de espera acima do normal, cancelamentos e adiamentos de voos, problemas na manutenção, entre outros.
Hoje mesmo, a Associação Europeia do Cockpit (ECA, na sigla inglesa) alertou para "níveis perigosamente crescentes" de fadiga da tripulação devido ao "caos das viagens" aéreas nos aeroportos europeus este verão, pela falta de pessoal e retoma inesperada do setor, pedindo orientações comunitárias.
A ECA pediu inclusive à EASA para emitir diretrizes sobre como as companhias aéreas e os aeroportos podem gerir com segurança o caos do verão.
A estimativa da associação europeia é que cerca de 18 mil pilotos europeus, quase um terço do total, perderam o seu emprego ou foram colocados em 'lay off' durante a crise da covid-19.
Também hoje, o grupo aéreo alemão Lufthansa anunciou hoje o cancelamento de mais 2.000 voos durante o verão, nos aeroportos de Frankfurt e Munique, devido à falta de pessoal.
O anúncio da Lufthansa surge depois de outras companhias aéreas terem avançado com medidas semelhantes, como a belga Brussels Airlines, que anunciou o cancelamento de 700 voos.