Centenas de milhões correm risco de "níveis críticos de fome"
![None](https://static-storage.dnoticias.pt/www-assets.dnoticias.pt/images/configuration/R/shutterstock_709023277_w7PELfV_SOs8wZj.jpg)
Centenas de milhões de pessoas correm risco de sofrer "níveis críticos de fome" nos próximos meses devido ao aumento da insegurança alimentar em África e no Médio Oriente, agravada pela guerra na Ucrânia, alertou hoje o Comité Internacional da Cruz Vermelho (CICV).
"É possível que nas próximas semanas apareçam mais imagens de crianças em estado de desnutrição", disse o CICV em comunicado, reiterando que o conflito no leste da Europa contribuiu para agravar o aumento global dos preços dos combustíveis, dos fertilizantes e dos alimentos.
Isto afeta especialmente regiões vulneráveis como África, onde 85% do trigo que se consome é importado, sobretudo em países em guerra ou com situações de instabilidade como o Mali, a Etiópia ou a Somália, explicou a Cruz Vermelha.
O CICV exemplifica que na Somália, que obtinha 90% do seu trigo da Rússia e da Ucrânia, o número de crianças menores de cinco anos com malnutrição aguda aumentou 50% face ao ano passado e muitas famílias foram obrigadas a retirar os filhos da escola.
"Os conflitos armados, a instabilidade política, os choques climáticos e os impactos secundários da pandemia de covid-19 diminuíram as capacidades de lidar e recuperar das perturbações. Os efeitos colaterais do conflito na Ucrânia pioraram uma situação já de si crítica", disse o diretor geral do CICV, Robert Mardini, citado no comunicado.
Perante esta situação, a Cruz Roja apela às partes envolvidas em conflitos para que protejam os cultivos, fado e pontos de acesso a água e que facilitem o acesso da ajuda humanitária.
Reconhecendo a generosidade da comunidade internacional perante a crise na Ucrânia, o CICV manifesta preocupação por estar a assistir a uma queda do financiamento para cobrir as suas necessidades globais, alertando que "áreas importantes" do seu trabalho estão atualmente "severamente subfinanciadas".
"Continuamos comprometidos em responder a estas emergências, mas os humanitários sozinhos não conseguem lidar com elas. Nós -- a comunidade internacional -- precisamos de redobrar coletivamente os nossos esforços", disse Mardini.
A Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), das Nações Unidas, estima em 346 milhões o número de pessoas em África que enfrentam insegurança alimentar severa, o que significa que um quarto da população do continente não tem o suficiente para comer.
Segundo o Programa Alimentar Mundial (PAM), também da ONU, o número de pessoas em insegurança alimentar deverá aumentar em 47 milhões este ano, para um total global de 811 milhões.