Deixem-nos entrar!
Quando o país se apresta para adoecer mostra previamente os seus sintomas. São vários que pré-anunciam doença grave. O primeiro a se manifestar, o estado caótico do sistema nacional de saúde.
O problema tem vindo a ser identificado com aparente facilidade sem que, no entanto, se punha o dedo numa ferida sistematicamente escondida pelo poder. Ou melhor, pelos poderes. Há poucos médicos no Serviço Nacional de Saúde porque são mal pagos e fogem para o privado. E por outras razões que derivam desta verdade. Mas não é só por isso. O problema não deve ser visto a jusante, como é conveniente para alguns, mas a montante, quando se pode dar uma ajuda para o resolver.
Há, de facto, poucos médicos em geral, seja para o SNS, ou para a cobertura do país para que todos os portugueses possam ter médicos de família, ou ainda para que os centros de saúde contem com pessoal médico suficiente face à procura.
Então porque não se deixam licenciar mais médicos? Porque é que a admissão no curso de medicina é o que carece das notas mais altas? Porque se dificulta que mais jovens possam cursar esta especialidade? Não se devia ter em conta as necessidades do mercado de trabalho e, neste caso, carências grosseiras que afectam a boa prestação da saúde a todos os portugueses?
Deixem-nos entrar, o país precisa deles. Até porque têm emprego garantido logo que saem da Universidade e disponibilizado pelo Estado nos hospitais. Não há mais médicos porque o governo não quer. Porque se quisesse saberia como. Mas às vezes parece que não manda. São os poderes corporativos que lhe dizem o que fazer. Como no tempo de Salazar.