Mundo

Detentores de depósitos em bancos em crise enfrentam polícia no centro da China

None Ver Galeria

Detentores de depósitos em bancos chineses enfrentaram a polícia, no domingo, na província de Henan, num caso que já chamara a atenção após as autoridades tentarem usar a aplicação de rastreamento da covid-19 para impedir a mobilização.

Centenas de pessoas ergueram faixas e gritaram palavras de ordem nos degraus da entrada da agência do Banco Popular da China (banco central), na cidade de Zhengzhou, a capital da província central de Henan, que fica a cerca de 620 quilómetros a sudoeste de Pequim, segundo o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

Um vídeo difundido nas redes sociais mostra agentes de seguranças à paisana em confrontos com a multidão. Outros vídeos mostram manifestantes a serem empurrados nas escadas por seguranças vestidos com camisas brancas ou pretas lisas.

Os manifestantes estão entre os milhares de clientes que abriram contas em seis bancos rurais em Henan e na província vizinha de Anhui que ofereciam taxas de juros mais altas.

Os depositantes foram depois impedidos de retirar os seus fundos, após a imprensa local ter noticiado que o chefe da empresa que controla os bancos, e Henan Xincaifu Group Investment Holding, tinha fugido e é procurado por crimes financeiros.

As faixas erguidas pelos manifestantes acusavam o governo de Henan de "violência e corrupção" e pediam a intervenção do primeiro-ministro chinês: "Li Keqiang, venha investigar Henan!".

A Comissão Reguladora de Bancos e Seguros da província declarou no domingo à noite que está a "investigar a situação financeira" dos bancos e que "vai elaborar um plano de compensação em breve".

De acordo com cálculos da imprensa local, até 400.000 clientes, com um total de 40.000 milhões de yuans (5.870 milhões de euros) depositados naqueles bancos, podem ser afetados.

No mês passado, as autoridades de Henan foram acusadas de uso indevido da aplicação de rastreamento e armazenagem dos resultados dos testes para a covid-19, imprescindíveis para viajar e aceder a locais públicos na China, para impedir protestos pelos depositantes.

O código QR de pessoas que tentaram deslocar-se até Henan, após os bancos locais terem suspendido transferências e levantamentos, ficou subitamente vermelho, o que impede viagens para outros territórios ou acesso a locais públicos, ao chegar a Henan ou mesmo antes de começarem a viagem.

De acordo com os regulamentos daquela província, apenas podem ser atribuídos códigos vermelhos a pessoas que sejam casos confirmados de covid-19, contactos diretos de casos positivos ou que cheguem do estrangeiro ou de zonas do país consideradas de risco.

O assunto gerou debate na rede social Weibo - o equivalente local do Twitter, que está bloqueado no país asiático -, onde alguns internautas manifestaram a sua indignação pelo abuso de uma ferramenta de prevenção epidémica.

"O código de saúde já se tornou uma ferramenta política", lamentou um internauta.

Cinco funcionários de Zhengzhou foram posteriormente punidos na sequência daquele caso.