Uma tempestade anunciada
As euribor a 12 e a 6 meses já estão positivas. A Euribor a 3 meses também não deverá demorar muito tempo a ficar positiva. Isto significa que, em geral, todos os empréstimos à habitação, que estão indexados a estas taxas, irão perder o desconto que tiveram durante os últimos 7 anos. Euribor negativas significaram um desconto no spread aplicado pelos bancos, diminuindo assim o lucro que o banco tinha no contrato de crédito, ficando o cliente a pagar menos pelo seu empréstimo e com maior disponibilidade financeira para o consumo, investimento ou poupança. Mas as más notícias não acabam por aqui. A inflação chegou a 8% no mês de maio. Comparando com maio de 2021, os preços em geral estão mais caros 8%, o que é uma brutalidade, considerando que não se verificava um aumento assim na inflação desde 1993. Mas esta subida nos preços tem ainda uma agravante, visto que este aumento está mais concentrado nas energias (gás, combustível e eletricidade) e na alimentação, o que vem dificultar ainda mais a vida dos consumidores, reduzindo significativamente o rendimento disponível das famílias.
A taxa de referência nos Estados Unidos não tem parado de crescer e as bolsas americanas já estão a corrigir desde o pico verificado no início de 2022, prevendo uma recessão. O Banco Central Europeu já corrigiu em baixa as previsões de crescimento económico da Zona Euro para 2022 e 2023, e subiu a estimativa da inflação para 7% ainda para este ano. Há outros indicadores que indiciam uma provável recessão. Neste momento estamos a presenciar um cenário em que as bolsas estão a prever um abrandamento na economia global e a própria configuração das curvas de rendimentos também nos dizem o mesmo, quando verificamos maturidades mais longas com taxas iguais ou mais baixas que as de curto prazo.
Saímos de um ciclo de crise profunda decorrente do COVID19, entramos num período de crescimento forte, que será provavelmente muito curto, para cair numa nova recessão, desta vez acompanhada de inflação.
Neste momento, os Bancos Centrais estão a tentar contrariar o aumento da inflação, provocando um abrandamento económico através da normalização da sua política monetária. Torna-se evidente que a subida nas taxas de juro de referência é um jogo perigoso quando o problema está claramente no lado da oferta e não no lado da procura. Temos bons exemplos de controlo da inflação através da política monetária na década de 80, mas também tivemos más experiências, quando na década de 70 subiram as taxas de juro após o choque petrolífero, o que levou a uma crise económica global.
Na maioria dos sectores, o problema está mais do lado da oferta que do lado da procura, sendo que se torna muito difícil promover uma normalização dos preços no lado da procura, como os Bancos Centrais estão agora a tentar fazer. Verificando-se o cenário de aumento da inflação com o de uma recessão económica, cairemos facilmente na tempestade perfeita, cuja resolução será muito politizada, o que tornará a solução muito difícil de prever.
O que estamos a ver nesta altura, é que os governos estão a optar por uma política muito perigosa, visto que estão a mexer unicamente no lado das despesas e da redestribuição de rendimentos. Um exemplo claro disto, é o caso Português nas opções tomadas na aplicação do PRR. O sucesso da década de 80 foi justamente contrário ao que se está a verificar. O seu sucesso não se deveu à política monetária, mas sim a uma política fiscal ao nível de incentivos às empresas, como forma de impulsionar a economia. Foi essa a opção política que promoveu o crescimento e que voltou a equilibrar a economia. Seria bom que os políticos fizessem agora uma revisão da matéria dada, para não voltarmos a cair nos mesmos erros do passado e evitarmos assim novos resgates altamente onerados para os contribuintes.