Bem prega Frei Tomás, sr. primeiro-ministro!
Não admira que tenhamos tanta gente de valor a trabalhar no estrangeiro
No passado fim-de-semana, o primeiro-ministro terá desafiado as empresas portuguesas para um esforço coletivo no sentido de aumentar o salário médio dos seus trabalhadores em 20%, durante a atual legislatura. António Costa terá acenado com apoios do Estado para ajudar as empresas a prosseguirem tal desiderato. Devo dizer que concordo, em absoluto, com a valorização dos salários médios em Portugal, cada vez mais próximos do Salário Mínimo Nacional. O que não posso deixar de denunciar é a hipocrisia de um governo que pede aos outros o que não é capaz de fazer. Será que António Costa defende aumentos salariais de 20%, nesta legislatura, para os trabalhadores do Estado cujos salários, na sua esmagadora maioria, não ultrapassa os 1000€?! Ou isto é só conversa da treta?! Recordo que os funcionários públicos a quem foram roubados subsídios de férias e de Natal, durante anos a fio, e a quem foram aplicados cortes salariais nos tempos da troika, tiveram aumentos salariais de 0,9% neste ano. Além disso, em sede de discussão do Orçamento do Estado, há duas ou três semanas, a maioria que apoia o governo reprovou diversas propostas que pretendiam aumentos salariais ao nível da inflação prevista para 2022. De facto, “bem prega Frei Tomás”. A valorização dos rendimentos para os servidores do Estado só depende do Governo e o sr. primeiro-ministro faz de conta que não sabe que, por exemplo, um jovem técnico superior, que ingresse agora na função pública, só chega ao topo da carreira quando tiver 140 anos, fruto de uma tabela remuneratória única estapafúrdia e de um Sistema Integrado de Avaliação de Desempenho que só permite progressões, em média, uma vez de 10 em 10 anos. Não admira que tenhamos tanta gente de valor a trabalhar no estrangeiro, uma vez que, na administração pública portuguesa, são explorados e ainda ficam com a má fama de produzirem pouco. A forma como o estado trata os seus servidores é uma vergonha. Vergonha que este governo, erradamente cognominado de “socialista”, pretende perpetuar, na senda dos piores exemplos que remontam a tempos de má memória.