Unicef alerta para uma iminente explosão de mortes de crianças com fome no Corno de África
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou hoje para uma iminente "explosão" de mortes de crianças devido à seca e à grave desnutrição aguda no Corno de África, caso o mundo não atue de imediato.
"Estou aqui hoje para vos dizer claramente que, se o mundo não desviar o olhar da guerra na Ucrânia e agir imediatamente, uma explosão de mortes de crianças está prestes a ocorrer no Corno de África", avisou a diretora regional adjunto da Unicef para a África Oriental e Austral, Rania Dagash.
O número de crianças que enfrentam desnutrição aguda grave aumentou mais de 15% no espaço de cinco meses, com mais de 1,7 milhões de crianças submetidas a tratamento na Etiópia, Quénia e Somália, disse a ONU através de um comunicado.
"Estima-se que 386.000 crianças na Somália necessitam agora desesperadamente de tratamento para uma grave desnutrição aguda que ameaça a sua vida, ultrapassando as 340.000 crianças que necessitavam de tratamento na altura da fome de 2011", disse Dagash.
As secas sucessivas e a falta de chuva fizeram disparar em 71% as admissões de tratamento para crianças com tal desnutrição no Quénia, seguidas da Somália (48) e Etiópia (27), o que, por sua vez, aumentou as taxas de mortalidade.
"Este ano, em algumas das áreas mais afetadas do Corno de África, três vezes mais crianças morreram de desnutrição aguda grave com complicações médicas em centros de tratamento hospitalar, em comparação com o resto do mundo", disse Dagash.
Ainda segundo dados da Unicef, entre fevereiro e maio o número de agregados familiares sem acesso a água limpa e segura quase duplicou, de 5,6 milhões para 10,5 milhões, um número agravado pela falta de abastecimento alimentar devido à guerra na Ucrânia.
"A vida das crianças no Corno de África está também em maior risco devido à guerra na Ucrânia. Só a Somália importava 92% do seu trigo da Rússia e da Ucrânia, mas as linhas de abastecimento estão agora bloqueadas", referiu.
Como resultado, milhares de pessoas na Etiópia, no Quénia e na Somália "não podem pagar a alimentação básica de que necessitam para sobreviver".
"O custo dos alimentos que salvam vidas que a Unicef utiliza para tratar crianças com desnutrição aguda grave deverá aumentar 16% em todo o mundo nos próximos seis meses", acrescentou.
"A comunidade internacional, liderada pela reunião do G7 na Alemanha em junho, precisa agora de afetar fundos novos e adicionais para salvar vidas. A concentração na Ucrânia não pode levar à negligência de outras crises e, em última análise, a mais perdas de vidas", indicou.