Sim, era assim que se passou a chamar essa marcha popular, quando apareceu na rua pela primeira vez e com muito público a assistir, eu estou a falar de uma marcha popular com mais de 70 anos, e foi essa marcha que deu lugar talvez às marchas atuais. Eu era bem pequeno e participei nessa primeira marcha, e esta só saia à noite para poder mostrar a sua luminosidade.

Naquele tempo os homens já usavam um chapéu, e de preferência todos pretos, também usavam coletes e camisas de gola, tinham as do seu dia a dia e também as de domingo que segundo diziam era a roupa da missa, portanto era bota, calça preta, colete, camisa de gola e chapéu, toda esta indumentária já era suficiente para se usar numa marcha popular, sobretudo a luminosa, com mais um pequeno arranjo tudo se resolvia, o que se precisava era mesmo de aprender a dançar, e a dança era simples, chamava-se dança da roda. Nesta dança o homem metia o gancho na sua companheira e rodava uma vez, andava dois passos para a frente e assim a marcha ia seguindo.

Quanto às senhoras, elas usavam vestidos compridos para sair e mais curtos para a lida da casa, deste modo a elas não faltava roupa, muitas usavam debaixo diversas saias que eram as saias de balão bem bonitas e não levavam armações, as blusas eram as que usavam diariamente, e sempre lenços na cabeça.

Mas não era só dança e roupa, a marcha luminosa que eu me lembro participavam mais de 70 homens e 70 mulheres, e os homens levavam uma lanterna acesa, já as senhoras levavam um púcaro apoiado na anca, ficavam cada um só com um braço livre para poderem dançar, mas também os mais idosos levavam uma pequena cesta de vimes com ervas aromáticas.

Esta marcha só tinha dois arcos, um à frente e um atrás, o arco principal era feito em cana vieira verde para ser torcido e também vime verde, o seu enfeite era forrado a cedro e a flores que eram preferência os cravos e o manjericão que provocava um cheiro intenso. Além de ser uma marcha com somente luz era também um belo cheiro na sua passagem.

O arco da frente era levado pelo marcante bem como o de trás, e conseguíamos arranjar as lanternas, porque naquela época todos usavam e tinham, eram muito usadas em casa e sobretudo na rua.

O meu avó possuía vários carros de bois e todos tinham lanternas pois eram usados no terreno, o meu pai herdou mais de cinquenta, nesse tempo nem todos tinham luz eléctrica, mas às escuras ninguém ficava. As músicas eram ensaiadas, os instrumentos eram de preferência harmónicas, violas de arame, castanholas, padeiras.

Eu nunca esqueci aquelas marchas e foi com essa aprendizagem que fiquei com o "bichinho" das marchas populares, um dia criei uma marcha e tentei sempre ir buscar o mais tradicional possível, cheguei a escrever cerca de sete marchas com letra e música minha, em que dividi os arranjos e a voz, um foi o Roberto das frutas, filho do Vasco e a linda voz da nossa querida e sempre estimada Vânia Fernandes, veja ou ouça um dia a marcha do Galeão você vai conseguir perceber tudo o que estou a dizer.

O que era marcha antiga e o que é as marchas de hoje, verá uma grande diferença sobretudo na popularidade.

Podemos criar várias marchas, mas não existe marcha igual como da minha infância, a Marcha Luminosa.

Juvenal Silva