Países do Mediterrâneo pedem à UE mesma solidariedade dada à Ucrânia
Um grupo de países mediterrânicos constituído por Itália, Espanha, Grécia, Chipre e Malta pediu hoje à União Europeia que demonstre para com o problema migratório no sul do continente a mesma solidariedade dada ao acolhimento dos refugiados da Ucrânia.
Os ministros do Interior dos cinco países mais expostos aos fluxos migratórios do Mediterrâneo fizeram este pedido a Bruxelas no final de uma reunião de dois dias, em Veneza, para "consolidar uma visão estratégica sobre os elementos essenciais do novo sistema europeu de gestão migratória".
A ministra italiana, Luciana Lamorgese, adiantou, numa conferência de imprensa conjunta hoje realizada, que os países mediterrânicos visam conseguir um mecanismo de distribuição de migrantes amplo e equilibrado.
"A crise da Ucrânia mostrou a capacidade de a Europa se unir e mostrar solidariedade para com as pessoas que fogem do conflito e precisam de acolhimento", afirmou a ministra, acrescentando que o encontro entre os cinco países constituiu "um importante ponto de referência para o próximo Conselho Europeu do Interior".
O ministro espanhol, Fernando Grande-Marlaska, sublinhou, por seu lado, a necessidade de a Europa encontrar "um equilíbrio entre responsabilidade e solidariedade" e de "alcançar acordos com países terceiros, em África, sobre este desafio estrutural e permanente" da migração para a Europa.
"Hoje mostramos a unidade do Grupo do Mediterrâneo, essencial para que as nossas propostas sejam levadas em consideração", disse o ministro.
"A Espanha está empenhada em continuar a falar a uma só voz", garantiu ainda Fernando Grande-Marlaska, depois de recordar que esta última reunião em Veneza é o fim de um processo que já passou por reuniões em Atenas e Málaga.
Na reunião anterior, participaram também os ministros do Interior de França e da República Checa, países que ocupam a presidência da UE em 2022, e de que o Grupo Mediterrâneo espera "respostas concretas" com "soluções equilibradas entre responsabilidade e a necessária solidariedade dos demais membros" da comunidade europeia, tendo a "distribuição [da migrantes] como instrumento essencial", avançou Lamorgese.
A ministra italiana já tinha avisado, na sexta-feira, que o bloqueio às exportações de cereais e outras matérias-primas da Ucrânia vai provocar um aumento da chegada de migrantes do Norte de África a Itália.
"O Chipre já registou mais 286% de desembarques e a Itália mais 30%, ou seja, cerca de 20.000 pessoas, mas se a crise [na Ucrânia] continuar e não for possível tirar os cereais dos portos do Mar Negro, devemos esperar maiores fluxos migratórios", concluiu.
Quase 200 mil migrantes irregulares chegaram à União Europeia no ano passado, o número mais alto desde 2017, segundo a contabilização feita em Janeiro pela agência europeia de controlo de fronteiras Frontex, que acrescentou que o fluxo migratório clandestino voltou aos níveis pré-pandemia de covid-19.
O número de chegadas ilegais foi 57% superior ao de 2020, quando as restrições impostas pela pandemia da covid-19 reduziram drasticamente a migração, mas também mais 36% do que em 2019, disse na altura a Frontex.
Em 2021, ainda antes de ter tido início a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Frontex dava conta de um novo afluxo de migrantes, com origem principalmente no Médio Oriente, através da Bielorrússia, no que a UE considerou uma operação orquestrada pelo regime Minsk.
A Frontex também observou um aumento acentuado nas chegadas de migrantes através do Mediterrâneo central, dos Balcãs Ocidentais e de Chipre.
A principal rota dos migrantes foi o Mediterrâneo central, por onde chegaram, em 2021, 65.362 migrantes irregulares, cerca de um terço do total. De um ano para o outro, o aumento foi de 83% naquela rota.