A Guerra Mundo

Putin sugere exportação de cereais ucranianos pela Bielorrússia

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A exportação de cereais da Ucrânia "não é um problema", assegurou ontem o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, sugerindo que a melhor opção é através da Bielorrússia e que as sanções ocidentais a este país devem ser levantadas.

"Não há problema em exportar cereais da Ucrânia", disse o chefe de Estado russo em entrevista televisiva, referindo-se a várias maneiras de os libertar através de portos ucranianos, ou de outros controlados pelos russos ou via Europa Central e Oriental.

Numa altura em que o conflito russo-ucraniano levanta receios de uma crise alimentar mundial, Vladimir Putin afirmou que os ocidentais estavam "a fazer 'bluff'" ao acusar Moscovo de impedir as exportações de cereais da Ucrânia.

O líder russo mencionou ainda a possibilidade de exportar pelos portos ucranianos de Mariupol e Berdiansk, localizados no Mar Azov, que dá acesso ao Mar Negro, e conquistados por Moscovo durante a sua ofensiva militar.

Também referiu uma exportação através dos portos do Mar Negro ainda sob controlo ucraniano, em particular o de Odessa. Para isso, Vladimir Putin exigiu mais uma vez que águas desses portos sejam "desimpedidas" por Kiev, garantindo que, em troca, a Rússia permite a passagem segura de navios.

De acordo com Putin, entre outras rotas possíveis, é possível o transporte no rio Danúbio "via Roménia", mas também "via Hungria" ou "via Polónia".

"Mas o mais simples, mais fácil e mais barato seria exportar através do território da Bielorrússia. De lá, pode ir para os portos do Báltico, depois para o Mar Báltico e depois para qualquer lugar do mundo", continuou.

Segundo o chefe de Estado russo, a exportação via Bielorrússia vai ser, no entanto, condicionada por um "levantamento das sanções" ocidentais contra Minsk, aliado de Moscovo.

A Rússia lançou, na madrugada de 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas das suas casas, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

O Presidente da Bielorrússia disponibilizou hoje o seu país como rota de exportação de cereais ucranianos, em troca de concessões como a abertura de portos do Báltico para os seus produtos, durante uma conversa com o secretário-geral da ONU.

"A melhor rota é a Bielorrússia", disse o chefe de Estado bielorrusso, Alexander Lukashenko, à agência de notícias estatal BELTA.

Numa conversa telefónica com o secretário-geral da ONU, o Presidente bielorrusso afirmou a António Guterres que as ferrovias do país poderiam transportar cereais ucranianos para os portos do Mar Báltico, desde que estejam também abertos para as exportações bielorrussas.

No quadro das sanções ocidentais à Bielorrússia, os países bálticos encerraram os seus portos às mercadorias bielorrussas, nomeadamente fertilizantes potássicos, um dos principais produtos de exportação daquela antiga República soviética.

De acordo com a BELTA, Guterres pediu a Lukashenko "uma pausa de alguns dias" para realizar consultas aos líderes dos países bálticos sobre a proposta da Bielorrússia.

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

A ONU refere também que mais de 4.100 civis morreram e quase 5.000 ficaram feridos na guerra, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.