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Ser autónomo é o máximo da condição humana

Ter autonomia não é só ter Parlamento e Governo Regional e alguns serviços descentralizados

Não há ninguém neste mundo que não queira ser autónomo e não depender de ninguém para viver bem e com dignidade. O pior sofrimento que podemos ter é depender de alguém, para fazermos as nossas tarefas básicas e para podermos dar uso à nossa imaginação e planear o futuro das nossas viagens, sejam elas na terra onde vivemos ou fora dela.

O pior sofrimento humano é não ter a sua autonomia total. É depender permanentemente de alguém para poder ser um pouco mais feliz. Sei que todas/os nós, um dia, teremos que passar por alguma dependência de terceiros e é bom que esses existam e nos cuidem com amor e generosidade. É bom pensar que a sociedade está estruturada para funcionar desta maneira. Que não nos devemos preocupar nem sequer estragar a cabeça, pensando que assim não será. Mas será que é isto que nos espera?

Em primeiro lugar, há uma tendência geral, sobretudo nas Instituições que trabalham com as pessoas mais velhas, para as tratarem como se fossem uma espécie de crianças crescidas. Nos trabalhos manuais que fazem. Na forma como as enfeitam quando participam em atividades lúdicas ou outras. Na forma como as tratam na linguagem. Sei que isto que estou a dizer pode ser considerado polémico, mas eu quero mesmo lançar alguma polémica sobre este tema. É uma tristeza visitar um local de apoio a pessoas mais velhas e vê-las sentadas nas cadeiras completamente apáticas. Sem expressão. Como se a vida já nada fosse para elas. É um pouco assustador. A falta de autonomia destas pessoas devia inspirar atitudes mais proativas, onde elas sentissem que ainda poderão ser úteis à sociedade e a si próprias, fazendo o que gostam.

É possível mudar o paradigma da falta de autonomia total ou parcial das pessoas dependentes, inquirindo o que elas gostariam de fazer. Por exemplo, cozinhar, tratar de jardinagem, ler em voz alta para quem não sabe ler ou já não consegue ler. Sei lá, um mundo de coisas que lhes façam felizes à sua maneira. Conheço pessoas mais velhas que gostam de escrever poesia. De cantar. De dançar. De ver o nascer e o pôr do sol. Etc… Por serem mais velhas, não deixam os seus gostos de lado quando envelhecem. Por isso não os tratem como se deixassem de ser adultas com a sabedoria da vida que ainda as anima, por isso mesmo é que estão vivas.

Decidi falar hoje na autonomia de uma forma diferente. Confesso que estou cansada de todos os anos lembrar a importância da autonomia e ver que as pessoas que vivem em zonas mais isoladas estão cada vez menos autónomas. É a farmácia que está a quilómetros de distância e os correios que estão longe. É a falta das agências bancárias, a distância dos bancos faltando, por vezes, um multibanco. São as empresas de telecomunicações que raramente atendem o telefone para aceitar reclamações. São os centros de saúde que não atendem os telefones para marcar uma simples consulta. Enfim, continuamos nas coisas mais básicas a terem pessoas tão dependentes como se a autonomia fosse para elas uma miragem. A maioria nem o significado da autonomia conhece.

Ter autonomia não é só ter Parlamento e Governo Regional e alguns serviços descentralizados. Ter autonomia não é só andar aos gritos com Lisboa para ter mais dinheiro. Ter autonomia não é só criar infraestruturas, algumas delas de duvidosa utilização. Ter autonomia devia significar, também, baixar os impostos como já aconteceu há alguns anos. Ter autonomia devia ser, acima de tudo, cuidar das pessoas e dos seus interesses. Fazem-se protocolos para tanta coisa, logo também se podia fazer com os bancos, com os CTT e com as farmácias, para que esses serviços nunca fossem retirados dos locais onde vivem as pessoas. A Autonomia só faz sentido fixando as pessoas nos seus locais de residência com as devidas estruturas e condições dignas.