Noruega alega direito de bloquear carregamento russo para arquipélago de Svalbard
A Noruega garantiu ontem ter o direito de bloquear a entrada no seu solo de um carregamento destinado a russos no arquipélago norueguês de Svalbard, após ameaças de represálias de Moscovo.
Oslo "não está a tentar levantar obstáculos" ao abastecimento de uma comunidade de mineiros russos instalados nessas vastas ilhas norueguesas próximas ao Polo Norte, assegurou a ministra dos Negócios Estrangeiros Anniken Huitfeldt numa declaração à AFP, após acusações de "ação hostil" pela diplomacia russa.
"A Noruega não viola o Tratado de Svalbard", que regula há um século, com regras específicas, este território de apenas 3.000 habitantes perdido nas fronteiras do Ártico.
Um tratado concluído em 1920 em Paris reconhece a soberania norueguesa sobre Svalbard, mas também garante aos cidadãos dos Estados signatários, hoje 46 e em que se inclui a Rússia, a liberdade de explorar os seus recursos naturais "numa situação de perfeita igualdade".
Neste sentido, a Rússia, e anteriormente a União Soviética, extrai desde há décadas carvão nestas terras habitadas por menos de 3.000 pessoas de cerca de 50 nacionalidades.
A carga que provocou fortes protestos russos "foi bloqueada com base nas sanções" impostas por Oslo após a invasão da Ucrânia, "que proíbem a entrada de empresas de frete russas no território norueguês", disse a ministra.
Neste episódio de tensão no Ártico, Moscovo acusa a Noruega de ter bloqueado 20 toneladas de mercadorias no posto fronteiriço terrestre de Storskog, que deveriam ser embarcadas para Svalbard a bordo de um navio no porto norueguês de Tromsø.
Mas nada impede que o lado russo use outras rotas diretas, por exemplo, por via marítima, para abastecer a sua comunidade de mineiros baseada na pequena cidade de Barentsburg, destacou Huitfeldt.
A situação é normal nesta pequena cidade onde funciona a mina de carvão mais setentrional do mundo.
"Os moradores têm acesso a alimentos e remédios", segundo Oslo.
A Rússia acusou hoje a Noruega de bloquear o trânsito de mercadorias com destino aos russos instalados no arquipélago ártico norueguês de Svalbard e ameaçou Oslo de represálias.
"Pedimos à parte norueguesa a resolução desta questão o mais rapidamente possível", disse a diplomacia russa em comunicado, anunciando que o encarregado de negócios norueguês em Moscovo foi convocado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.
"Sublinhámos que as ações hostis face à Rússia implicam medidas de represálias", acrescentou.
Segundo Serguei Guchtchine, o cônsul russo no arquipélago ártico, trata-se de 20 toneladas de mercadorias, incluindo sete toneladas de produtos alimentares e o restante peças sobressalentes e equipamentos essenciais para preparar o inverno.
Segundo o diplomata russo, a Noruega bloqueia as mercadorias em aplicação das sanções europeias aplicadas à Rússia devido à sua ofensiva militar na Ucrânia, e estão a ser estudadas vias de abastecimento alternativas, incluindo a partir da cidade russa de Murmansk.
A cerca de mil quilómetros do polo Norte, Svalbard possui o dobro da superfície da Bélgica e é por vezes considerado como o 'calcanhar de Aquiles' da NATO no Ártico.
Em mensagem na rede social Telegram, o vice-presidente do Conselho da Federação da Rússia, Konstantin Kossatchev, acusou Olso de violar o tratado de Paris.
"As autoridades norueguesas pretendem que os mineiros russos fiquem sem alimentação, o que é imoral. Constitui uma violação dos direitos humanos e dos princípios do humanismo", acusou.
No entanto, o cônsul russo considerou que de momento ainda não se regista penúria alimentar entre os cidadãos russos instalados neste arquipélago.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro e a ofensiva militar já matou mais de quatro mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de oito milhões de pessoas, das quais mais de 6,6 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.