Rússia ameaça retaliar contra restrições aos media russos nos EUA
"Se o trabalho dos media russos, dos seus operadores de câmara e correspondentes no território dos Estados Unidos não for normalizado, haverá inevitavelmente contramedidas severas", avança Ministério dos Negócios Estrangeiros russo
O Governo russo informou os chefes de correspondentes norte-americanos em Moscovo de que serão alvo de "contramedidas severas" se os Estados Unidos mantiverem as restrições impostas à imprensa russa, anunciou hoje a diplomacia de Moscovo.
"Se o trabalho dos media russos, dos seus operadores de câmara e correspondentes no território dos Estados Unidos não for normalizado, haverá inevitavelmente contramedidas severas", disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, citada pela agência espanhola EFE.
Zakharova disse que os chefes dos correspondentes dos EUA foram convocados na segunda-feira, para lhes explicar "as consequências da linha hostil" da administração norte-americana.
A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros disse que Washington está atualmente a fazer tudo o que pode para "tornar impossível, proibir ou restringir" o trabalho dos correspondentes de órgãos russos em território dos EUA.
Os deputados russos aprovaram, em abril, numa primeira apreciação, um projeto de lei que confere aos procuradores poderes para encerrar delegações de órgãos de imprensa estrangeiros em Moscovo se o país de origem da organização noticiosa tiver discriminado os meios de comunicação social russos.
O projeto de lei, que ainda aguarda mais duas apreciações, a aprovação do Senado e a promulgação pelo Presidente russo, Vladimir Putin, procura "responder simetricamente a ações hostis em relação aos meios de comunicação russos".
Se a lei for aprovada, o Ministério Público poderá bloquear os meios de comunicação estrangeiros e até revogar a sua licença sem uma decisão judicial.
O deputado Alexandr Yushchenko apoiou hoje a decisão do Ministério dos Negócios Estrangeiros de convocar os chefes das delegações dos meios de comunicação social norte-americanos, que acusou de seguirem frequentemente uma política "absolutamente russófoba e mentirosa".
"Podemos tomar medidas correspondentes em relação aos meios de comunicação social que conduzem uma política de informação hostil ao nosso país", disse Yushchenko, citado pela estação de rádio Govorit Moskva.
Uma das primeiras medidas tomadas por vários países ocidentais após a invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, foi a proibição de meios de comunicação russos como a RT e o Sputnik nos seus territórios, que Moscovo denunciou como uma violação grosseira da liberdade de expressão.
O sexto pacote de sanções contra Moscovo aprovado hoje pela União Europeia inclui também a suspensão das atividades de radiodifusão na UE de três outros meios de comunicação estatais russos: RTR Planeta, Russia 24 e TV Centre International.
A UE tomou a decisão por considerar que aqueles três órgãos são instrumentos utilizados pelo Kremlin (Presidência russa) para manipular a informação e promover a desinformação.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, para "desmilitarizar e desnazificar" o país vizinho.
Oficialmente, a Rússia designa a ofensiva como uma "operação militar especial" e pune com penas de prisão pesadas os jornalistas que usem palavras como "guerra".
No início deste mês, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) acusou o regime de Putin de ter estabelecido uma extensa censura em tempo de guerra a um nível que não era visto desde a União Soviética e de lançar uma campanha de desinformação para justificar o conflito.