Mês de amores
Nas séries policiais televisivas surge, em praticamente todos os episódios, a necessidade de colher alguma amostra de saliva, cabelo, sangue, etc, para se poder identificar a vítima ou descobrir quem foi o assassino através do ADN.
O objetivo é sempre o mesmo: encontrar o culpado castiga-lo de acordo com a lei de modo a proteger a sociedade de novos assassinatos e evitar vinganças. Dito de outro modo, o que se pretende é erradicar o ódio. Mas, será que já se descobriu o processo de identificar o ADN daqueles que sabem amar em vez de odiar? Que agradável seria se, em vez de andarmos desconfiados e temerosos pelo mundo, pudéssemos saber que, em determinados ambientes e lugares, estaríamos seguros!
Este tipo de ADN, o do amor, não se encontra materialmente, em amostras biológicas, mas apenas ao nível do espírito. Reconhece-se pelo modo de falar, de agir, de trabalhar, no relacionamento das pessoas. Também se revela pelas suas virtudes: laboriosidade, fidelidade, sentido de responsabilidade, tenacidade, generosidade...
O mês de junho convida-nos a dar as boas vindas ao amor mediante o exemplo dos chamados santos populares. Geralmente, estes festejos e arraiais levam-nos a pensar no amor humano, entre um homem e uma mulher, o que já é muito bom. Porém, logo no dia 10, podemos reconhecer o convite para amar a Pátria, no nosso caso, amar Portugal. Não seremos certamente governantes, mas cada um de nós usufrui de algum modo de poder, quanto mais não seja o de ser “senhor de si”, senhor da sua vontade e não escravo dos seus apetites e caprichos. A rainha Santa Isabel, nossa homónima, soube “mandar” porque possuía o tal ADN do amor à sua família, amor esse que resultou em favor da paz no reino. Suportou as infidelidades do rei e cuidou da formação dos filhos de ambos e também dos de D. Dinis. O seu filho, D. Afonso, e D. Dinis entraram alguma vez em conflito armado que a rainha conseguiu acalmar. Já viúva, evitou a guerra entre o seu filho e o genro, marido de sua filha, entrando no campo de Alvalade e passando entre os dois exércitos, postados para a batalha, montada numa mula branca!
No dia 13, Sto António é festejado principalmente em Lisboa. Nele, o ADN também revela a sua têmpera. Foi um grande pregador da verdade e do amor de Deus. Por vezes, em Pádua, ninguém aparecia para o ouvir. Ele não desanimou e decidiu ir pregar aos peixes que, esses sim, subiram à superfície da água para o escutar. Foi um dos milagres que lhe deu notoriedade e fama. Hoje é um dos Doutores da Igreja, pelo seu amor aos homens e por ter dedicado a sua vida ao ensino e à pregação.
Na cidade do Porto, e um pouco por to o país, S. João é recordado no dia 24 e festejado, com um feriado municipal. A sua fidelidade à verdade levou-o ao martírio. O rei Herodes vivia com Herodíades, a mulher de seu irmão. João Batista, arriscando a vida, dizia-lhe que tal união não era lícita e, por esse motivo, foi mandado decapitar. É curioso notar que este facto se passou ainda antes da instituição do sacramento do matrimónio. A união de um homem com uma mulher é uma instituição de direito natural destinada à geração de filhos em plena fidelidade para a proteção e formação deles. S. João foi um forte protetor do amor humano no seu tempo. Por isso o invocamos para proteger o nosso tempo.
S. Pedro, o príncipe dos apóstolos, ofereceu a sua vida pela Igreja nascente. O seu ADN manifesta-se no modo como viveu as virtudes teologais, Fé, Esperança e Caridade. Acreditou em tudo o que Cristo veio ensinar e tomou a seu cargo transmitir esses ensinamentos aos seus contemporâneos; esperou na vida eterna; entregou a sua vida pela salvação dos outros. Foi crucificado como Jesus, mas pediu para o voltarem de cabeça para baixo por não se achar digno de morrer como o Mestre. É festejado em diversas vilas piscatórias em atenção ao seu ofício de pescador.
Temos ainda a grande alegria de celebrar, no mês de junho, a festa do Sagrado Coração de Jesus, o coração que abriga o grande Amor, e por fim a memória do Sagrado Coração de Maria que trouxe em si o ADN do seu Filho. Também nós, pelo Batismo, passamos a ter algo do ADN divino, pois nos tornamos filhos de Deus.
Isabel Vasco Costa