Centenas pediram "menos conversa e mais acção" pelos oceanos
"Menos conversa e mais ação", pediu a mancha mais ou menos azul que percorreu hoje a zona do Parque das Nações na marcha em defesa dos oceanos, para que os responsáveis políticos que ali se reúnem pudessem ouvir.
O objetivo era pintar de azul a Alameda dos Oceanos, junto ao Altice Arena que esta semana é palco da Conferência dos Oceanos da ONU, mas nem todos vestiram a camisola daquela cor, como convidava a organização da Marcha Azul pelo Clima, e a passagem pela principal rua foi breve.
Ainda assim, as várias centenas ativistas não deixaram de se fazer ouvir e durante a cerca de uma hora de marcha, desde a Gare do Oriente à Avenida do Índico, entoaram em bom tom gritos que, em português e em inglês, continham um apelo comum: proteger os oceanos.
"Mudar o sistema, não o clima" ou "Oceano, clima, a luta é a mesma" foram algumas das mensagens que se foram ouvindo repetidamente, acompanhadas pelo som ritmado dos tambores.
O grupo começou a reunir-se pelas 17:30 junto à Gare do Oriente e pelas 18:00, hora a que estava previsto o início da marcha, o número de pessoas não parecia animador mas quando finalmente arrancou pouco depois das 18:30 contavam-se já cerca de 500 ativistas.
Entre bandeiras, cartazes e até algumas instalações artísticas, focavam vários temas desde a exploração mineira em mar profundo, o plástico nos oceanos ou a proteção de determinadas espécies, como os tubarões.
"São os guardiões dos oceanos, são responsáveis pelo equilíbrio dos ecossistemas marinhos e têm de ser protegidos. Se pusermos as suas espécies em perigo, é também a biodiversidade marinha que ficará em perigo", sublinhou Manuela Martins.
Uma entre cerca de uma dezena de pessoas vestidas com um fato de tubarão, Manuela esteve na marcha também em defesa daqueles animas, mas sobretudo pela preservação dos oceanos e, como muitos outros, pediu mais ação dos decisores políticos.
"É muito importante discutir, mas mais importante do que discutir é pôr a ação em marcha, tomar decisões que são difíceis, mas são muito importantes e tem de haver a coragem de as tomar", afirmou, reforçando que "sem oceanos saudáveis, não há nada saudável no planeta".
A Marcha Azul pelo Clima decorreu à margem da Conferência dos Oceanos da ONU, que reúne até sexta-feira em Lisboa representantes de 140 países e foi sobretudo a esses que se pediu "menos conversa e mais ação".
"Conversa-se muito, diz-se muito e depois não se chega a lado nenhum. Acho importante que nos façamos ouvir e que, àqueles que estão lá dentro (na Conferência) os obriguemos de certa maneira a agir", disse Dörte Schneider Garcia, alemã a viver em Portugal e envolvida em vários movimentos de cidadãos pelo ambiente.
Também Pedro Flores, voluntário da Quercus, se mostrou cético quanto à intenção dos decisores políticos naquilo que disse serem "só conferências de 'bla bla bla'" e lamentou que o oceano seja frequentemente esquecido.
"O mar tem sido o nosso caixote do lixo e temos de mudar a nossa mentalidade", defendeu.
Como os gritos entoados durante a marcha, entre os participantes contavam-se também diferentes nacionalidades e Debbie Ngarewa-Packer viajou até Lisboa desde o outro lado do mundo.
Debbie é uma das líderes do Partido Maori, na Nova Zelândia e está a participar na Conferência dos Oceanos, mas durante o final da tarde voltou a vestir a capa de ativista e juntou-se à marcha para ser mais uma voz na defesa da preservação dos oceanos, um tema tão próximo do povo que representa.
"O nosso povo depende do mar e tem sido altamente afetado pela pobreza na Nova Zelândia, a última coisa de que precisamos é que acabem com a nossa fonte de comida", explicou.
Dirigindo-se aos responsáveis políticos, considerou que o seu apoio ao combate das alterações climáticas se traduz maioritariamente em ações "demasiado pequenas" e pediu que assumam o esforço para assegurar todas as precauções para proteger o oceano.
"Não só hoje, mas sobretudo para gerações futuras", acrescentou.