Sánchez culpa máfias por "assalto violento" à fronteira de enclave espanhol de Melilla
O primeiro-ministro espanhol culpou hoje as máfias que traficam seres humanos pelo "assalto violento contra a integridade territorial" de Espanha no enclave de Melilla, no norte de África, na sexta-feira, em que morreram 18 pessoas.
"Se há um responsável por tudo o que aconteceu nessa fronteira são as máfias que traficam seres humanos", afirmou Pedro Sánchez, numa conferência de imprensa hoje em Madrid.
Sánchez insistiu em que se tratou de um "assalto violento e organizado pelas máfias a uma cidade que é território espanhol e, portanto, foi um ataque à integridade territorial" do país.
O primeiro-ministro elogiou as forças de segurança espanholas em Melilla, no norte de África, um enclave em território marroquino, e lembrou que entre os mais de 300 feridos no assalto, nos dois lados da fronteira, há dezenas de membros da Guarda Civil espanhola.
Sánchez reiterou também o agradecimento às autoridades de Marrocos na tentativa de controlo do assalto de milhares de pessoas à vedação fronteiriça de Melilla.
As autoridades marroquinas revelaram que 18 pessoas morreram, todas migrantes que tentaram saltar a vedação e passar para o lado espanhol.
Segundo as autoridades dos dois países, mais de 300 pessoas ficaram feridas na tentativa de saltar a fronteira e nos distúrbios que se seguiriam, entre elas, perto de 200 elementos das forças de segurança de Marrocos e Espanha.
Cerca de 2.000 pessoas tentaram na sexta-feira entrar ilegalmente em Melilla, desde Marrocos, e 133 conseguiram passar para território espanhol, disseram as autoridades da cidade.
As autoridades da cidade revelaram que cerca de duas mil pessoas se concentraram em território marroquino perto de Melilla e começaram a aproximar-se da fronteira às 06:40, tendo sido acionado um dispositivo policial pelos dois países.
Um grupo de 500 pessoas conseguiu chegar à vedação que separa os dois territórios, tendo danificado alguns pontos de passagem.
Era um grupo "perfeitamente organizado e violento", segundo a Delegação do Governo espanhol em Melilla.
Os enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla são as únicas fronteiras terrestres da União Europeia (UE) com o continente africano (com Marrocos, nos dois casos).
Esta é a primeira tentativa de violação massiva das fronteiras dos enclaves desde a normalização das relações diplomáticas entre Madrid e Rabat, em março passado, depois de um ano de tensões.
A crise estava relacionada com a estada em Espanha em abril de 2021 do líder do movimento independentista sarauí Frente Polisário, para ser tratado na sequência de uma infeção causada pela covid-19.
A Frente Polisário, apoiada pela Argélia, contesta a ocupação por Marrocos do Saara Ocidental.
A tensão diplomática entre Madrid e Rabat desencadeou a entrada, em meados de maio, de mais de 10.000 migrantes em Ceuta, graças a uma flexibilização dos controlos do lado marroquino.
Em março passado, as relações bilaterais foram normalizadas, depois de o Governo espanhol assumir publicamente que a proposta apresentada por Rabat em 2007 para que o Saara Ocidental seja uma região autónoma controlada por Marrocos é "a base mais séria, credível e realista para a resolução deste litígio".
O Saara Ocidental é uma antiga colónia espanhola ocupada por Marrocos há 47 anos, no contexto de um processo de descolonização.
Espanha defendeu durante muito tempo que o controlo de Marrocos sobre o Saara Ocidental era uma ocupação e que a realização de um referendo patrocinado pela ONU deveria ser a forma de decidir o futuro do território.