Albuquerque defende apenas um mandato à Presidência da República
Entrevista do presidente do Governo Regional a Pinto Balsemão também aborda relação com Alberto João Jardim
Líder do executivo madeirense não afasta cenário de se envolver, no futuro, na política nacional.
Francisco Pinto Balsemão lançou o podcast 'Deixar o Mundo Melhor' para assinalar as comemorações dos 50 anos do semanário Expresso e convidou o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, para abordar em cerca de meia-hora um pouco de tudo.
Desde os tempos de juventude, passando pelos negócios e, naturalmente, pela política, o líder do executivo madeirense aceitou o repto lançado pelo membro fundador do PSD. E foi já na ponta final do podcast que Miguel Albuquerque considerou que o mandato do Presidente da República deveria cingir-se a apenas um ano - isto depois do desentendimento sobre o convite para as celebrações do Dia de Portugal.
As palavras surgiram enquanto opinava sobre as reuniões do Conselho de Estado - onde irá estar presente no próximo dia 28 de Junho - indicando que gosta, aprende e que são importantes os encontros “acontecerem com alguma frequência”, embora poderiam ser “mais interessantes”.
O primeiro mandato do Presidente da República é para ser popular ou ser reeleito, portanto, nunca se atravessa nos assuntos. Miguel Albuquerque
"Sou defensor que o Presidente da República deveria ter só um mandato, porque o Presidente da República, mesmo com a leitura que se faça da nossa constituição, a figura continua a ser uma pedra angular e importante na gestão dos poderes do país. Nesse sentido sempre fui defensor e defendo mais do que nunca um único mandato, talvez com mais um ou dois anos, e aí os Conselhos de Estado seriam mais importantes", considerou.
Igualmente sobre a Presidência da República, Miguel Albuquerque recordou o apoio à candidatura de Mário Soares, em 1986, e explicou que o assunto “dependeu da conjuntura política”.
O PSD aqui dividiu-se a meio. Houve uma parte do PSD que apoiava estrategicamente Mário Soares e outra Freitas do Amaral. Nós tivemos na organização da campanha de Mário Soares aqui na Madeira, porque estrategicamente interessava ao partido que não houvesse uma grande hegemonia do PSD a nível nacional. Foi isso que fez com que o partido se dividisse e do ponto de vista instrumental e pragmático foi isso que fizemos. Miguel Albuquerque
Ainda sobre política e a hipótese levantada para assumir um cargo a nível nacional, o líder do executivo madeirense não afasta o cenário. "Já fui tentado. Vou ser franco. Se eu não tivesse o compromisso com a Madeira – e também não posso deixar o partido agora – inicialmente até me pensei em candidatar ao PSD, até porque eu acho que o PSD precisa de todos os militantes sob pena de desaparecer enquanto partido fundador e de referência da democracia portuguesa. Tenho ambição, não vou ser hipócrita, um dia mais tarde, se for possível", indicou.
A relação com Alberto João Jardim
Quando falava sobre o seu percurso na Câmara Municipal do Funchal, que se iniciou como vice-presidente de Virgílio Pereira, em 1993, Albuquerque recordou a relação com Alberto João Jardim e a forma como o relacionamento 'azedou' já na recta final do seu último mandato.
Nós brigámos e a briga foi feia, mas eu saio ao meu avô. Acho que a política precisa de pessoas que tenham coragem física e mental. Tivemos a nossa briga, tivemos os nossos desentendimentos, mas hoje em dia damo-nos bem. Nunca fui de dar muitas facadas pelas costas. Quando era preciso dar dava pela frente. Hoje em dia tenho uma boa relação com o Dr. Alberto João Jardim. Acho que ele me respeita, como eu o respeito. Não há nenhum ressentimento, acho eu, entre nós. Exactamente devido à nossa frontalidade. Ele percebeu e percebe que assumi os destinos da Região e do PSD e que não ajusto contas com o passado. Miguel Albuquerque
Ao longo de 19 anos no papel de autarca, o agora presidente do Governo Regional admite que “os primeiros anos não foram fáceis”, mas depois passou a conhecer o “funcionamento da Câmara” e “correu muito bem”.
"Fizemos um trabalho muito importante. Depois, no último mandato – eu estava a pensar sair um mandato antes, mas tinha-me desentendido com o Dr. Alberto João Jardim, porque havia algumas tensões de poder - tudo correu de forma a eu só sair em 2013. E quando saí o caldo já estava bem entornado", revelou, relembrando que nas primeiras internas que travou frente ao ex-líder do partido perdeu “por muito pouco”.
Ninguém estava à espera. Na altura foi uma escandaleira. Parecia que caía o Carmo e a Trindade. Disseram que ia ser esmagado na eleição, mas comecei a fazer uma campanha sozinho, com um grupo pequeno de três ou quatro pessoas, e ia aos locais falar com os militantes e quase ganhava a eleição contra a máquina toda. Miguel Albuquerque
Do piano ao roseiral
É neste ponto que começa o podcast, ou seja, o lado mais pessoal de uma “pessoa normal”. Albuquerque considera que era “bom aluno”, embora não estudasse muito, tendo feito referência, desde logo, ao gosto pela música.
“Tocava à noite e fazia as férias dos músicos nos hotéis. Comecei a tocar à noite aos 14 anos. Aqui na Madeira havia um ambiente muito ligado aos bares e aos hotéis devido ao turismo e durante muitos anos sempre tive uma vida nocturna muito intensa, mas isso nunca me prejudicou. Normalmente conseguia conciliar estudos, desporto e saídas nocturnas. Durante muitos anos saí sempre à noite”, recordou.
Comecei no piano lá em casa e depois tive aulas com um maestro mexicano, que vivia na Madeira, Amador Cortez Medina, e tive aquelas aulas de solfejo horrorosas, para o clássico, mas normalmente quando ele saía da minha vista tocava sempre um pouco de rock and roll (...) Para tocares bem tens de meter o coração no instrumento. Muitas vezes vemos muitos músicos clássicos, ou grandes executantes, que não conseguem pôr o coração no instrumento. E, normalmente, muita malta nova quando começa a tocar, sobretudo na área do jazz, está muito concentrada no instrumento e não olha para o público. A música é comunicação. Temos de olhar para a plateia e interagir com o público como se diz actualmente. É fundamental transmitir emoção. Miguel Albuquerque
Outra paixão de Albuquerque são as rosas e Francisco Pinto Balsemão não se esqueceu de perguntar pelo roseiral da Quinta do Arco, entretanto vendida.
"O meu bisavô tinha uma quinta no Monte e era muito interessado pela botânica. Quando ia lá visitá-lo ele tinha um conjunto de plantas exóticas que recebia de todo o Mundo e comecei a interessar-me por algumas áreas da botânica, mas particularmente pelas roseiras. A partir de determinada altura comecei a fazer colecção e a fazer correspondência com grandes coleccionadores mundiais e depois, quando fiquei com uma das quintas da família, fui fazendo aos poucos o roseiral da Quinta do Arco, que ainda hoje existe. Também participava muito nos júris internacionais dos concursos. Era um mundo muito interessante e muito cativante", observou.
Entretanto arrendei o roseiral e vendi a quinta porque não tenho tempo para isso, mas continuo a ter interesse pela botânica. Acho que isso faz parte da cultura regional. Hoje temos um jardineiro, a quem eu dei formação, que por lá continua e está bem gerido e bem administrado. É um negócio que complementa a oferta da Quinta. Miguel Albuquerque