Costa afirma que PPD/PSD vive em crise existencial desde que se rebaptizou social-democrata
O primeiro-ministro afirmou hoje que o PPD/PSD vive numa crise existencial ideológica desde que se rebatizou social-democrata, confusão que disse refletir-se no facto de o atual líder do Chega, André Ventura, ter antes sido deste partido.
António Costa falava no final da primeira ronda do debate sobre política geral na Assembleia da República, na sequência de uma intervenção do líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, na qual acusou o PSD de explorar problemas conjunturais para colocar em causa o Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal.
Na resposta, o líder do executivo referiu-se ao PPD (Partido Popular Democrático) fundado por Francisco Sá Carneiro em 1974, mas que poucos anos depois passou a chamar-se PSD (Partido Social Democrata) com o objetivo de integrar esta família política no espaço europeu.
"Percebo que há partidos que têm uma crise existencial de se terem querido rebatizar de uma família ideológica que não é a sua, que nunca os reconheceu e onde eles nunca conseguiram entrar. O PPD que era PPD quis-se inventar PSD, mas, obviamente, não cabem lá, não são", sustentou António Costa, líder do partido que pertence à família das sociais-democracias do norte e centro da Europa.
Mas António Costa foi mais longe neste ponto e defendeu mesmo que essa "confusão" com o nome da maior força política da oposição "fez com que até o deputado André Ventura tenha sido militante e candidato desse partido ainda há muitos poucos anos, tal a confusão do que é o PSD".
Neste contexto, elogiou em contrapartida a opção seguida pela Iniciativa Liberal.
"Finalmente, o país dispõe agora de uma alternativa clara, que não se esconde no seu nome, que diz que é liberal e tem orgulho em ser liberal. É um contributo muito importante para a riqueza da democracia, porque tornou as coisas claras", advogou o primeiro-ministro.
Segundo António Costa, do ponto de vista ideológico, em Portugal, "há uma esquerda à esquerda do PS; há a esquerda que o PS sempre representou em Portugal, que é a esquerda social-democrata, trabalhista, do socialismo democrático; e há uma direita que finalmente diz aquilo que é, liberal".
"Há ainda uma direita que ainda não diz o que é, mas já chega do que chega. Um dia irá dizer aquilo que é. Depois, há o PPD, que assim devia ser", completou, com vários deputados do PSD a protestarem.
Para António Costa, o PPD/PSD compreende-se melhor politicamente pelas opções que toma em questões centrais.
"Sempre que chegamos à verdade dos factos, o PPD/PSD não hesita em saber qual o seu lado. Quando se discutiu a criação do SNS, o PPD/PSD foi contra, quando o PPD/PSD esteve no Governo aprovou uma lei em que, parecendo mera semântica, descaracterizou o SNS como sistema de saúde, numa lógica concorrencial entre os setores público, privado e social. Foi o Tribunal Constitucional que declarou a inconstitucionalidade dessa lei", acrescentou.
Na sequência de críticas de vários partidos à situação que se viveu em várias urgências hospitalares nos últimos dias, o presidente do Grupo Parlamentar do PS procurou assegurar que a bancada socialista "não é cega nem surda em relação ao que acontece nos hospitais".
"Mas, aqui, não hesitamos em defender o SNS. Como disse o líder parlamentar do PSD, Paulo Mota Pinto, sabemos que os problemas não começaram agora. Só que agora há mais 24% de profissionais de saúde do que em 2015, há mais médicos e mais enfermeiros no SNS", contrapôs Eurico Brilhante Dias.
De acordo com a bancada do PS, "apesar de todas as restrições de ordem financeira, os governos do PS estiveram sempre ao lado do SNS".
"Há reformas estruturais a fazer, o Plano de Recuperação e Resiliência prevê 1,3 mil milhões de euros para a saúde, mas a intenção da direita é outra. A direita quer aproveitar-se de uma conjuntura para colocar em causa o SNS", acusou o líder parlamentar do PS.
Eurico Brilhante Dias recusou depois que o PS tenha algum dogma ideológico em relação à política de saúde seguida em Portugal, argumentando neste ponto que "as inovações no SNS partiram sempre de governos socialistas".
Eurico Brilhante Dias apontou como exemplos a criação das "parcerias público privadas na saúde - os governos de direita não criaram uma única PPP em Portugal, zero -, a formação de unidades de saúde familiares (USF) ou a criação de centros de responsabilidade integrada".
"A direita aproveitará tudo para atacar o SNS", insistiu.