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Ex-chefe das FARC assume mais de 20.000 raptos na Colômbia

Foto Sebastian Barros/Shutterstock.com
Foto Sebastian Barros/Shutterstock.com

"Timochenko", ex-chefe da defunta guerrilha marxista das FARC na Colômbia, reconheceu hoje responsabilidade em mais de 20.000 raptos perpetrados pelo grupo durante o conflito armado.

Sentado em frente a vários ex-reféns e famílias num auditório em Bogotá, Rodrigo Londono, aliás "Timochenko", assumiu a responsabilidade pelos raptos, juntamente com outros seis altos comandantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia na época.

Todos estão atualmente acusados pela Jurisdição Especial para a Paz (JEP), nascida do acordo de paz que pôs fim, em 2016, ao conflito com a guerrilha.

Em nome dos 13.000 combatentes que assinaram o acordo, o ex-chefe rebelde reconheceu a "responsabilidade individual e coletiva de um dos crimes mais abomináveis cometidos" pela organização.

São "resultado de uma política que levou a crimes contra a humanidade e a crimes de guerra", declarou aquele que era o chefe das FARC quando do desarmamento.

Os ex-combatentes da guerrilha de Pablo Catatumbo, Julian Gallo, Pastor Alape, Milton Toncel, Rodrigo Granda e Jaime Alberto Parra, participaram nesta audição pública da JEP, que se realiza até quinta-feira.

Estes homens são acusados de mais de 21.000 raptos e outros crimes, cometidos entre 1990 e 2016.

Os políticos e os militares vítimas destes raptos, e que serviram de moeda de troca com os combatentes das FARC capturados, ouviram as confissões de ex-carrascos, que consideraram insuficientes.

Oscar Tulio Lizcano, raptado em 2000, quando era deputado conservador, exigiu que os "carcereiros" esclarecessem o destino dos reféns desaparecidos.

"Devem dizer-nos a verdade. Perdoamos, mas isso não significa que não há justiça. Queremos a verdade", exigiu o ex-parlamentar de 75 anos, que escapou aos raptores em 2008.

"Estes crimes foram o produto de uma política adotada pelo secretariado (direção) das FARC" e "cometidos diretamente pelos seus subordinados", comentou a juíza Julieta Lemaitre, que presidiu hoje à audição.

Segundo o acordo de paz, os ex-guerrilheiros devem acordar as reparações às vítimas e contar a verdade para evitarem a prisão.

O tribunal levará pelo menos três meses para pronunciar a pena dos acusados.

Se as confissões forem consideradas insuficientes podem ser condenados a penas até 20 anos de prisão.

Em maio, cerca de 20 oficiais do Exército na reforma, entre os quais um general, reconheceram o envolvimento na morte de mais de 100 civis, a maioria das vezes camponeses simples, que passavam depois por guerrilheiros mortos em combate.

A JEP estima que houve pelo menos 6.400 vítimas desta prática, conhecida pelo nome de "falsos positivos".