Presidente da AR pede que se olhe para abstenção jovem para perceber como afetará democracia
O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, alertou hoje para a necessidade de compreender se a abstenção entre os eleitores jovens é um algo cíclico ou um fenómeno geracional que pode enfraquecer a democracia.
"A taxa de abstenção eleitoral é bastante maior entre os jovens do que entre os mais idosos", indicou Santos Silva enquanto discursava para estudantes de Ciências da Comunicação da Universidade Autónoma de Lisboa, no âmbito da conferência "Os Jovens, o Jornalismo e a Política".
O presidente do parlamento aproveitou para deixar uma questão aos estudantes e demais participantes: "É um fenómeno ligado a um ciclo de vida ou estou a referir-me a um fenómeno geracional? O significado é bastante diferente".
No primeiro caso, explicou, significa que os jovens que hoje se abstêm nas eleições eventualmente vão tornar-se cidadãos que participam com consistência na política.
Contudo, se se tratar de um fenómeno geracional, significará que "esses jovens continuarão a abster-se" e isso terá consequência para o "regime de escolhas" existente em Portugal e que "permite garantir um conjunto de direitos, liberdade e garantias fundamentais", acrescentou Augusto Santos Silva.
"Não devemos ignorar esses sinais de alerta, mas também não devemos dramatizá-los", considerou.
A solução pode passar, continuou, por "inquirir os jovens" e "estar disponível para ouvi-los", de modo a fazer com que percebam o papel que desempenham na manutenção da democracia.
O presidente da Assembleia da República olhou para os resultados das eleições legislativas em França, no último domingo, e disse que "os números são bastante claros quando sugerem que o jornalismo deixou de ser a fonte de informação" predileta para os jovens -- a abstenção nestas eleições foi de 53,77% de acordo com as informações disponibilizadas pelo Ministério do Interior.
No entanto, os jovens franceses recorrem a "material não tratado" para se informarem, advertiu Santos Silva, razão pela qual classificou o jornalismo como profissão da maior importância.
Quando as democracias desaparecem "não é por acaso que o jornalismo é o primeiro sacrificado", referiu, concluindo: "A democracia precisa do jornalismo e o jornalismo precisa da democracia. [O jornalismo] precisa de condições de liberdade de independência e de efetividade de poder que só uma democracia lhes garanta".