Ucranianos podem aumentar até 1,3 milhões a força de trabalho da zona euro
O Banco Central Europeu estima, num estudo hoje publicado, que 25% a 55% dos refugiados ucranianos em idade ativa venha a participar na força de trabalho na zona euro, podendo representar mais 300 mil a 1,3 milhões de trabalhadores.
Num artigo hoje publicado pelo BCE no boletim económico sobre "o impacto do afluxo de refugiados ucranianos na força de trabalho da zona euro", o banco central calcula que, tendo em conta "vagas anteriores de refugiados e adaptando-a à situação atual, prevê-se uma taxa de participação na força de trabalho [da zona euro] a médio prazo entre 25% e 55% para os refugiados em idade ativa".
Numa altura em que quase sete milhões de pessoas saíram da Ucrânia devido à invasão russa, número que pode chegar até aos 10 milhões, o BCE prevê que mais de metade dos refugiados ucranianos possa participar na força de trabalho da zona euro, sendo que o extremo inferior desse intervalo (25%) se baseia "no nível de integração verificado para os refugiados anteriores após dois anos no país de acolhimento, com um ajustamento ascendente para refletir a proximidade cultural da Ucrânia e o impacto da rápida ação política da UE", enquanto a percentagem máxima (55%) "reflete estimativas recentes da taxa de participação das mulheres em idade ativa que migraram de fora da UE a 27 para a zona euro".
As mulheres e as crianças representam a grande maioria destes migrantes e, nestes cálculos, o BCE teve ainda em conta a futura entrada na zona euro de homens que ficaram no país para combater.
"Globalmente, espera-se que o afluxo de refugiados ucranianos conduza a um aumento gradual da dimensão da força de trabalho da zona euro", especifica o documento, realizado pelo economista do BCE Vasco Botelho.
Em concreto, estes migrantes podem vir a representar um aumento entre 0,2% e 0,8% da população ativa da zona euro a médio prazo, o que de acordo com o artigo do BCE "corresponde a um aumento entre 0,3 e 1,3 milhões na dimensão da força de trabalho", isto é, do total de pessoas que no espaço da moeda única estão disponíveis para trabalhar.
O BCE realça que o "aumento da oferta de mão-de-obra que resulta do afluxo de refugiados ucranianos poderia aliviar ligeiramente o constrangimento verificado no mercado de trabalho da zona euro".
Dadas as vagas de migração ucraniana dos últimos anos, ainda antes da invasão russa do país este ano, cerca de 75% do total de refugiados ucranianos vivem atualmente na zona euro.
"Existe uma importante comunidade ucraniana que já vive na zona euro e as recentes experiências de outros refugiados aliadas ao facto de os países da zona euro terem os meios económicos para receber refugiados poderiam encorajar ainda mais refugiados ucranianos a estabelecerem-se na zona euro ao longo do tempo", mas esta proporção "dependerá da duração e da gravidade da guerra", adianta o BCE.
A publicação surge no dia em que se assinala o Dia Mundial do Refugiado e quase quatro meses após a invasão militar da Ucrânia pela Rússia.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de quatro mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de oito milhões de pessoas, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.