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Do Leão à Ponta da Galé

Da Ponta da Galé à Ponta do Pargo, convém ir pondo as barbas de molho…

A rocha ou pedra do Leão, sobressaindo no mar, é uma referência geográfica no extremo oriental da Calheta, no sítio da Fajã do Mar, no Arco da Calheta, na ‘fronteira’ com a Madalena do Mar, concelho da Ponta do Sol. A Ponta da Galé é outra referência, desta vez, do lado ocidental da Calheta, já no Estreito da Calheta. Foi por estas bandas que terão ancorado os primeiros exploradores, numa calheta, isto é, numa pequena enseada, dando assim o nome ao local onde desembarcaram.

Uns séculos mais tarde, chegaram umas aves de arribação que resolveram, em conluio com o Governo, conspurcar o nosso mar, colocando umas jaulas negras no meio do límpido azul marinho da Calheta. (Uma delas, numa carta datada de 16/09/2016, até propunha que fosse deslocalizada uma empresa de extracção de inertes que labora há muitos anos nos Anjos, para se instalarem naquele local.) As pessoas não gostaram e suscitaram questões de impacto paisagístico, ambiental, abuso de poder, etc. Essas manifestações, em vésperas de eleições, suscitaram preocupações eleitorais, (as sondagens…) dando origem, no dia 19 de Setembro de 2019 (eleições a 22 de Setembro de 2019) a uma deslocação do então Secretário Regional do Mar, ao Arco da Calheta, a fim de apaziguar os ânimos. O governante, posicionado na rotunda do Arco da Calheta/via expresso, com as jaulas em fundo e rodeado dos seus correligionários, candidatos e eleitos, prometeu que não haveria ampliações, que o povo seria auscultado no processo, que a Calheta ficasse descansada, bla, bla, bla…

O projecto está a crescer!

Devo esclarecer que, tanto eu como muitos dos que contestam a localização daquelas jaulas, nada têm contra a actividade da aquacultura ou qualquer outra actividade económica. Mas sentimo-nos na obrigação de defender, entre outros, o nosso direito a uma paisagem natural equilibrada onde os interesses económicos privados, apadrinhados pelo governo, não se devem impor unilateralmente e de qualquer forma ao interesse público de toda a população, das Calhetas e não só. Aliás, argumentos que o governo esgrime noutras áreas e paragens… Ou será que, por debaixo daquelas jaulas, a Laurissilva se estará a expandir e florescem os tis, os barbuzanos, os folhados, os vinháticos, superiormente alimentados pela grande concentração de rações, fármacos, químicos e fezes dos milhares de peixes?

No próximo ano, vamos ter novas eleições. Virá mais um Secretário Regional do Mar prometer que não haverá ampliações… fora da zona que fica entre a rocha do Leão e a Ponta da Galé?

Da Ponta da Galé à Ponta do Pargo, convém ir pondo as barbas de molho…