Listas de espera na Saúde
A situação atual das listas de espera no SESARAM tem vindo a agravar-se. Segundo os últimos dados divulgados existem mais de 118.412 atos médicos por realizar, sendo que destes mais de 20 mil são cirurgias, 29 mil são exames imagiológicos, 24 mil são meios complementares de diagnóstico e terapêutica e 44 mil são consultas de especialidade.
Para retirarmos algumas conclusões destes números é naturalmente necessário olhar à evolução da situação ao longo dos últimos anos, e é precisamente desta análise que surgem dados ainda mais alarmantes. O número total de atos médicos em lista de espera corresponde a praticamente o dobro do que existia em 2015 (63.635) quando tomou posse o primeiro Governo Regional liderado por Miguel Albuquerque. Se olharmos aos últimos anos, correspondentes a este último mandato de Miguel Albuquerque, vemos que as listas de espera continuaram a crescer, passando de 108.800 em 2019 para os 118.412 em 2021. São mais 10 mil atos médicos em lista de espera em apenas dois anos.
Poderia justificar-se esta subida mais recente com a pandemia, não tivesse o Sr. Secretário Regional da Saúde referido por mais de uma vez na Assembleia Legislativa da Madeira, ao longo dos últimos dois anos, que a pandemia não tinha causado quaisquer atrasos nem agravado a situação das listas de espera, algo que os números oficiais vêm agora desmentir.
Este agravamento é ainda mais preocupante se tivermos em consideração outros fatores, como sejam a redução de atividade devido à covid-19 e a consequente menor referenciação de novas situações, mas sobretudo o facto de ter existido uma “limpeza” das listas. Dizia em Maio de 2019 o Secretário Regional da Saúde que as listas de espera na Madeira estavam sobredimensionadas e que estava “a fazer cruzamento de dados para tornar a situação mais transparente e para os números ficarem mais reais”. Ora, se esta “limpeza” ocorreu, os atuais números das listas de espera são ainda mais graves, pois significa que o aumento de atos médicos em espera foi ainda superior.
Perante todo este cenário, em especial perante os dados divulgados que desmentem o Governo Regional, o SESARAM através do seu Diretor Clínico vem pedir três anos para recuperar da pandemia. A tal pandemia que segundo o Governo Regional não tinha afetado a situação das listas de espera, como tantas vezes ouvimos na Assembleia Legislativa da Madeira durante os debates sobre a situação pandémica.
Quando confrontado com estes dados, o Secretário Regional da Saúde revelou que estaria mais preocupado se as situações em falha estivessem relacionadas com as Urgências. Mas o SESARAM existe apenas para tratar os casos urgentes, deixando que todos os outros se acumulem em listas de espera? E os casos urgentes não foram sempre tratados com a mesma prioridade e relevância que são hoje? O único dado novo nesta equação é mesmo o acumular de atos médicos em lista de espera.
As listas de espera são um tema demasiado sério, que afeta milhares de madeirenses, para ser olhado desta forma. E falo de listas de espera, como poderia falar igualmente da situação nas urgências ou das altas problemáticas. A saúde dos madeirenses não pode ficar permanentemente em lista de espera.
Nunca como agora se investiu ou gastou tanto em saúde na RAM, repete incessantemente o Governo Regional. Temos, sem dúvida alguma, profissionais de saúde de excelência e incansáveis no seu trabalho diário. No entanto, assistimos a um acumular de situações sem que exista uma solução aparente para a sua redução, o que apenas indicia má gestão dos recursos públicos e que o Governo Regional tem de ser responsabilizado. Com tanto investimento, não deveria o SESARAM cumprir com o seu primeiro e principal objetivo: tratar atempadamente os doentes?