Dentro de água
O verão vai chegar em breve e, com ele, a vontade de nos refrescarmos com banhos de mar ou rio. Porém, devemos ser cuidadosos com estas formas de descanso. O nosso habitat natural não é o dos peixes.
Muitos de nós, portugueses, tivemos já a experiência de nos sentirmos aflitos dentro de água, sobretudo se, enrolados em alguma onda mais forte, incapazes de suster a respiração por mais tempo, acabamos por aspirar água com alguma areia. Pois é um pouco assim que nos sentimos com algumas das recentes legislações portuguesas, da União Europeia, do mundo. A votação parlamentar a favor da despenalização da eutanásia faz-nos sentir arrastados para um mundo que tende a afogar-nos, levando-nos a perder a noção de onde se encontra a superfície, a verdade salvadora. E isto em águas já poluídas de ideologias.
Ainda o nosso mar estava limpo, quando a alforreca da legalização do divórcio veio deixar queimaduras em vários membros das famílias. As mais dolorosas marcavam sobretudo as mulheres e crianças, mas também os pais, sogros e irmãos desses casais que tomavam a seu cargo o cuidado destas vítimas inocentes da irresponsabilidade de pais e legisladores.
Os despojos do divórcio começaram a poluir o grande oceano do amor humano: as infidelidades multiplicaram-se na família, no trabalho e nos negócios. Apareceram os anticoncetivos, o flagelo do aborto, o desprezo pelos doentes, o abandono dos pais, avós e idosos em geral... e o desprezo do próprio “eu”. À medida que se cuida mais o corpo do que o espírito e as virtudes humanas, este mar que é a nossa sociedade tem-se tornado mais e mais poluído.
Felizmente, os apaixonados pelo mar e seus mistérios, podem usar alguns recursos para se prevenirem: barbatanas, óculos e tubo de mergulho, garrafas de oxigénio e até arpões e espingardas para retirar alimentos do mar. A grande tábua de salvação, o grande navio que nos pode levar a bom porto, é o conhecimento da verdade. O problema está em saber em quem confiar. Quem me pode dizer a verdade? Como descobrir se o que ouço, leio ou que vejo é verdade? Ah! Se houvesse um Deus que nos assegurasse a verdade!
A boa notícia é que esse Deus existe, viveu feito Homem entre os homens, ensinou a Verdade, deu exemplo de como nós homens devemos viver e morreu para nos salvar.
O seu primeiro exemplo foi pedir a S. João Batista que o batizasse. É certo que, sendo Deus, Cristo não tinha pecados. Mas também é certo que aquele baptismo não perdoava os pecados. Jesus quis dar exemplo aos homens, pois era verdadeiro Homem. Daí por diante, cada judeu que se batizasse, ficaria livre do pecado original e passaria a ser um “filho muito amado” do Pai. Por isso, Jesus mandava aos seus discípulos que fossem pregar e batizar. O mundo passou a ficar mais limpo.
Ficarão ainda vários poluentes com os quais teremos de conviver. Porém, embora contaminados por leituras, filmes ou ideologias, podemo-nos defender, e até animar e ajudar aqueles que estão em apuros, já com falta de ar. Estes, que aspiraram água suja, devem expeli-la mediante uma boa confissão com um sacerdote de confiança. Ainda os há, e muitos! Depois, para evitar novos acidentes, é conveniente munir-se com óculos e tubo antes de entrar na água, comungando na Missa de Domingo e mantendo o costume da confissão frequente.
Para os desportistas, nadadores e mergulhadores, o uso de barbatanas e garrafas de oxigénio é muito útil. Sim, para quem deseja conhecer melhor o seu “eu” e desenvolver a sua personalidade e os seus dotes, é aconselhável ter um “coach”, um diretor espiritual, e recorrer a ele semanalmente. Este “coach” aconselhará a “dieta” apropriada a cada novo “exercício”; só subirá a exigência quando os seus pulmões e músculos estiverem preparados; aconselhá-lo-á a ler ou frequentar um curso antes de se aventurar no grande mergulho do casamento.
Importante também é rodear-se de amigos que saibam nadar e estejam dispostos a salvar-nos quando estivermos a afundar-nos.
Creio que, assim, conseguiremos manter-nos em segurança dentro de água.
Isabel Vasco Costa