MNE alemã diz que UE não pode fechar a porta à Ucrânia
A ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, defendeu hoje que a União Europeia (UE) não pode fechar a porta à Ucrânia na atual situação e que deve dar-lhe uma perspetiva de adesão.
"Não basta dizer que a Ucrânia pertence à Europa, é preciso dar-lhe uma perspetiva de entrada", disse Baerbock num fórum organizado pela estação televisiva WDR.
A ministra reconheceu que a situação atual da UE não é fácil, no que se refere a alcançar alguns compromissos, mas acrescentou: "Todos os problemas parecem pequenos se pensarmos que a poucas horas de voo de onde estamos estão a morrer pessoas".
"O projeto europeu nunca foi fácil. Foi um projeto que se criou para que a minha geração, entre outras, pudesse viver em paz. Agora está a ser desafiado. É um momento histórico", observou.
Por isso, a MNE alemã sustentou que a UE tem de levar adiante o novo pacote de sanções e mostrar unidade e que, apesar das divergências que existem - como a resistência húngara a um embargo ao petróleo russo -, se deve recordar que "a Europa sempre cresceu nas crises, porque, depois de cada crise, políticos corajosos deram passos importantes".
Nesse sentido, Baerbock mostrou-se a favor de que se acelere o processo de admissão dos países dos Balcãs ocidentais, o que também exigirá "aprofundar" a unidade europeia.
"Temos que utilizar instrumentos que até agora não utilizámos. Se queremos expandir a UE, não basta pôr mais três cadeiras em cada cimeira. Temos que aprofundar a união", sublinhou.
Segundo a ministra, uma das principais lições da atual crise é que a Europa nunca mais pode voltar a ser tão dependente da Rússia como tem sido em matéria energética, de modo a ser vulnerável a chantagem.
"Temos a questão da energia - isso já é leite derramado, e a dependência da China é ainda maior", alertou, acrescentando: "Agora, temos a possibilidade de corrigir isso".
A outra lição desta crise "é a necessidade de trabalharmos juntos", frisou.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas de suas casas -- mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,8 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou hoje que 4.169 civis morreram e 4.982 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 99.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.