Universidade lidera investigação pioneira em Macau para prever tempestades e inundações
O presidente da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST) recebeu 1,14 milhões de patacas (134 mil euros) de financiamento para liderar uma investigação pioneira sobre condições meteorológicas severas no território.
"É importante, por causa do impacto das alterações climáticas nas condições meteorológicas extremas e inundações em Macau", começou por dizer à Lusa Joseph Lee Hun-wei, presidente da MUST.
Atribuído pelo Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia de Macau (FDCT) e pelo Departamento de Ciência e Tecnologia da Província de Guangdong, o apoio vai subvencionar, segundo o responsável, uma "investigação fundamental para a previsão de tempestades e inundações" na região administrativa chinesa.
"A ideia é progredir nesta capacidade de prever intempéries em Macau", notou o especialista na área da engenharia hidráulica e ambiental.
Trata-se de um projeto de três anos, que incide sobre a Baía de Hac Sa, na ilha de Coloane, uma zona "que ainda não foi bem estudada", e que coloca a MUST na frente da investigação climática local: serão realizadas "as primeiras medições em campo de ondas e correntes marítimas de Macau", com instrumentos e sensores a serem depositados no local.
É, além disso, a primeira "colaboração a fundo" com um "importante centro de investigação hidráulica na província de Guangdong" - o Instituto de Estudo Científico de Recursos Hídricos do Rio das Pérolas.
Macau é afetada anualmente por tufões de diferentes categorias, sendo o período entre julho e setembro o mais crítico.
Este ano, esperam-se entre cinco a oito ciclones tropicais na região, de acordo com uma antecipação feita em março pela Direção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) de Macau, que salientou que "os extremos climáticos continuam a ocorrer e os ciclones tropicais continuam a aumentar" no território.
Desde 2017, dois tufões obrigaram as autoridades à emissão do alerta máximo (sinal 10). A passagem do Mangkhut, em 2018, deixou prejuízos económicos no valor de 1,74 mil milhões de patacas (204 milhões de euros) e provocou 40 feridos e inundações graves. Um ano antes, o Hato causou 10 mortos, 240 feridos e estragos avaliados em 12,55 mil milhões de patacas (1,47 mil milhões de euros).
A passagem dos tufões pelo território é geralmente acompanhada por inundações graves, em especial nas zonas baixas da península, onde comerciantes e habitantes locais são normalmente afetados.
Joseph Lee tem-se dedicado nos últimos anos ao estudo de soluções no campo da engenharia para mitigar o impacto das alterações climáticas no património e nas cidades. Esteve envolvido em projetos nas áreas de Mong Kok e Happy Valley, em Hong Kong, onde, para reduzir os efeitos das inundações, se optou por soluções como a drenagem das águas pluviais através de túneis subterrâneos que transportam a água até ao mar.
Para fazer face aos fenómenos meteorológicos severos em Macau, como tempestades, o engenheiro defendeu, no final de abril, durante um 'webinar' organizado pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS, na sigla inglesa), uma "combinação de soluções baseadas na natureza", como o desenvolvimento de mangais que podem ajudar a reduzir o impacto das ondas em caso de tufões, e de "soluções estruturais".
"Aqui, as redes subterrâneas e de drenagem podem ser bastante relevantes, porque, no meu entendimento, quando chega o tufão, a água do mar pode retornar através da rede e inundar a cidade, ou seja, [as inundações] não são só causadas pela chuva", referiu.
"As soluções baseadas na natureza são importantes, mas precisam de uma base científica. A questão é: o governo poderia apoiar este tipo de investigação muito importante", acrescentou.
À Lusa, o presidente da MUST disse ainda que, em relação às outras cidades da Grande Baía, Macau "está apenas a começar" na investigação na área da Engenharia Ambiental e Hidráulica.
"Não temos pessoas suficientes nem investigadores", admitiu o especialista, sublinhando que seria importante trabalhar em conjunto com outras cidades da região.
"Mas para trabalhar efetivamente com outros parceiros, tem de se ter já uma certa profundidade", notou Lee, referindo que a pequena região ainda não alcançou esse nível.
A Grande Baía é um projeto de Pequim que tem como objetivo criar uma metrópole mundial a partir das regiões administrativas especiais chinesas de Macau e de Hong Kong e outras nove cidades da província vizinha de Guangdong, onde habitam mais de 60 milhões de habitantes.