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Marcha do orgulho LGBTI+ leva milhares às ruas de Lisboa

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Milhares de pessoas desceram ontem o Príncipe Real até à Ribeira das Naus, em Lisboa, levando as cores do arco-íris da 23ª marcha do Orgulho LGBTI+, contra a discriminação.

Segundo disse à Lusa a comissão organizadora da marcha, que regressou hoje a Lisboa após o interregno devido à pandemia, pelo menos 25 mil pessoas desceram desde o Jardim do Príncipe Real, em direção ao Largo de Camões, onde continuaram pela Rua do Alecrim, culminando na Ribeira das Naus.

Pelas 17:00 já milhares de pessoas se tinham concentrado no ponto de encontro, dando início à marcha cerca de meia hora depois.

Participantes portugueses, mas também de várias outras nacionalidades, envergaram centenas de bandeiras arco-íris e cartazes, onde se podia ler "transfobia tem cura: educação", "trabalho não rima com armário", "contra a mutilação genital das crianças e bebés intersexo" ou "a desinformação só aumenta a discriminação", entre tantos outros.

Em declarações à Lusa, Alexa Santos, porta-voz da comissão organizadora da marcha, afirmou que "a marcha é importante porque o que se quer é que todas as pessoas sejam livres de serem quem são, que tenham uma vida plena e feliz".

"Quando dizemos todas as pessoas, queremos mesmo dizer todas as pessoas. Toda a gente: homens, mulheres, cis, trans, heterossexuais, não heterossexuais, toda a gente beneficia de uma sociedade que é efetivamente mais diversa, que é efetivamente mais igualitária e que existe para todas as pessoas poderem ter uma cidadania plena", disse.

Para Alexa Santos, "as marchas são o lugar por excelência para fazermos reivindicação, para ocuparmos a rua, para que todas aquelas coisas que acontecem que nos violentam possam ser ditas, nomeadas e depois que a reivindicação de proteção, de apoio, seja feita".

Durante cerca de uma hora e meia foram milhares os que gritaram palavras de ordem como "A nossa luta é todos os dias, contra o racismo, o machismo e a transfobia", mas também "Habitação é um direito, sem ele nada feito. Saúde é um direito, sem ele nada feito", "Fascistas chegou a vossa hora. Os emigrantes ficam e vocês vão embora" ou "Abaixo o patriarcado".

Eram cerca das 18:40 quando o início da marcha chegou ao palco instalado na Ribeira das Naus, onde decorre a festa da diversidade, mas às 19:00 ainda centenas caminhavam pela Rua do Alecrim.

À Lusa, João Labrincha, porta-voz do GAT - Grupo de Ativistas em Tratamentos, um dos 24 coletivos e associações que participaram na organização, salientou que, "num momento em que estivemos todos fechados em casa, este é o momento de voltarmos a mostrar a nossa visibilidade e resistirmos a todas as agruras que aconteceram".

"A população LGBTI+ foi uma das mais sacrificadas pela crise económica", disse, acrescentando que "hoje estamos aqui a reivindicar a rua de novo, a mostrarmos a nossa diversidade, as nossas cores e a celebrarmos a diferença do ser humano e a lutarmos para não voltar ao passado".

"Somos muitas minorias que fazem muita gente, importamos e devemos ser ouvidos", defendeu.

Uma opinião partilhada por Mafalda Gomes, de 26 anos, participante da marcha, para quem "hoje é um dia em que nos unimos todos a lutar", considerando que a existência da comunidade "ainda não está totalmente consolidada e respeitada".

"Já vi mais a marcha como um lugar de celebração. Quando comecei a vir, aos 15 anos, era aquele sítio onde nos sentíamos válidos, havia pessoas iguais a nós, estávamos todos mais felizes por nos sentirmos incluídos, porque nunca tínhamos sentido essa inclusão naquela idade. Com o passar do tempo, a marcha foi tornando-se um lugar mais político", conta à Lusa.

Para Mafalda Gomes, existe ainda caminho a percorrer: "as nossas exigências hoje não vão ser iguais às exigências de ontem. Não quer dizer que por se terem alterado e por termos chegado e cumprido e algumas coisas, não quer dizer que tudo o que conquistámos está sempre a um dedo de nos ser tirado de volta".

Tomás Nunes, de 23 anos, disse acreditar que esta é uma forma de "continuar a lutar por aqueles que se calhar não têm tantos direitos".

"Eu, enquanto pessoa trans, se calhar tenho mais direitos hoje do que tinha há uns anos. Considero-me privilegiado e quero usar o meu espaço no sociedade para estas pessoas que não têm este privilégio, lutar por elas, estar presente", disse.