Kinshasa recusa Kigali numa força regional e faz apelo a Boris Johnson
A República Democrática do Congo não quer o Ruanda numa eventual força regional no seu território e apela ao primeiro-ministro britânico, em vésperas de Kigali acolher uma cimeira da Commonwealth, que convença Paul Kagame a terminar a "agressão".
"Os terroristas do M23 [grupo rebelde Movimento 23 de março], apoiados pelo Ruanda, atacaram [segunda-feira a localidade de Bunagana", na fronteira com o Uganda, "e saquearam-na", acusou, mais uma vez, o Governo de Kinshasa num comunicado de imprensa do Ministério das Comunicações e Media, em inglês, divulgado na sexta-feira à noite.
No dia anterior, o Governo condenou esta "enésima agressão", que descreveu como "uma violação deliberada da integridade territorial" da República Democrática do Congo (RDCongo).
O comunicado recorda que decorreu na quarta-feira um "Conselho Superior de Defesa" extraordinário, presidido pelo chefe de Estado, Felix Tshisekedi, após o qual a RDCongo decidiu suspender os acordos bilaterais com o Ruanda.
"A segurança continua a deteriorar-se no leste, basicamente porque o Ruanda está a tentar ocupar o nosso país, rico em ouro, coltan [mistura de columbita e tantalita] e cobalto, para seu próprio proveito. É uma guerra económica pelo controle de recursos, travada por gangues terroristas do Ruanda", afirma o Presidente da RDCongo, citado no documento.
O comunicado acrescenta que Felix Tshisekedi pediu à comunidade internacional, "especialmente aos Estados Unidos e ao Reino Unido", que "condenem esta invasão" e que pressionem o Presidente ruandês, Paul Kagamé, a "convocar as suas tropas que invadiram o leste da RDCongo".
Na sequência de um acordo entre Londres e Kigali para o acolhimento no Ruanda de migrantes expulsos do Reino Unido, Kinshasa diz "esperar que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, consiga usar a sua influência" sobre Paul Kagamé, indica ainda o texto, lembrando que uma cimeira da Commonwealth está agendada para a próxima semana na capital do Ruanda.
Além disso, o Governo de Kinshasa diz acolher favoravelmente a proposta do Presidente queniano, Uhuru Kenyatta, de instalar uma força regional no leste da RDCongo para restaurar a paz, mas "insiste no facto de que não aceitará a participação do Ruanda nesta força conjunta".
A instalação no leste da RDCongo "de uma força regional composta por países que estão na origem da desestabilização, das atrocidades e da pilhagem dos recursos não trará estabilidade nem paz e corre o risco de agravar a situação", sustentou, por sua vez, no Twitter Denis Mukwege, a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Paz em 2018.
O M23 é uma antiga rebelião dominada pelos tutsis, que foi derrotada em 2013, mas voltou a pegar nas armas no final de 2021. Kigali nega dar qualquer apoio a esses rebeldes.