As comemorações e as barracas
Ligeiramente atrasado, perco os segundos iniciais do programa da SIC Grande Reportagem - “4 paredes para a dignidade”. Começo por ouvir um pastor evangélico pregando para um pequeno grupo de pessoas de cor. Os repórteres começam a mostrar uns aglomerados de barracos onde habitam seres humanos com dignidade, mas sem condições. Subo o som do televisor e começo a concluir que as imagens não são de África como pensara que eram. São de Lisboa. Da antiga capital do Império e a grande maioria destes personagens, são o fruto da chamada "Descolonização exemplar”, um dos Dês da Revolução de 1974. A caminho de meio século, foi criada uma comissão para tais festejos. Como somos um país rico e sem carências, as comemorações prolongam-se durante 5 anos, 6 meses e 24 dias, O comissário nomeado e, entretanto promovido a Ministro da Cultura graças ao currículo conseguido em tão curto espaço temporal, neste país com o ordenado mínimo de 705,00€, irá usufruir cerca de 4.500,00€/mês com direito a motorista, secretária e uma equipa de cerca de 12 pessoas. Acham muito? Vá lá. Nada de miserabilismo. É mais barra menos barra da pesada herança. Volto ao programa no momento em que respondem ao repórter que normalmente lá em casa são 4 ou 5 mas há casos em que é necessário alojar 7 ou 8. E que tal pedir-lhes para se aconchegarem mais um pouco e meterem lá mais dois ou três convidados que não conseguiram lugar numa unidade hoteleira e assim iriam ficar a saber o significado de mais um Dê. O da Democratização. Ou será do Desespero? Talvez do Desavergonhamento.
Jorge Morais