A Guerra Mundo

Fracassa primeira tentativa de evacuação de Azot, a segunda Azovstal

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A primeira tentativa para retirar centenas de civis da fábrica de químicos de Azot, último reduto da resistência ucraniana na cidade de Severodonetsk, fracassou hoje, repetindo-se o cenário ocorrido no complexo siderúrgico Azovstal, em Mariupol.

Segundo os separatistas pró-russos, a evacuação das instalações industriais da cidade do leste da Ucrânia tomada na quase totalidade pelas tropas russas, anunciada para terça-feira, fracassou por culpa das forças de Kiev, que abriram fogo sobre os militares russos próximo do ponto de saída dos civis.

"Nós cessámos fogo e organizámos um corredor da entrada da fábrica até à saída de Severodonetsk, mas às 08:10 (06:10 em Lisboa), a parte ucraniana começou a disparar", disse Alexandr Nikishin, representante das milícias populares de Lugansk.

Segundo a mesma fonte, apenas um homem de 74 anos saiu do complexo fabril por volta das 07:00 locais (05:00 em Lisboa), mas aparentemente não por ter sido informado da tentativa de evacuação do local, e indicou que só num dos refúgios antiaéreos do recinto estão cerca de 70 civis, mas que "ninguém sabia que hoje se abriria um corredor humanitário".

"O funcionamento do corredor [humanitário] foi suspenso por hoje", declarou Nikishin, acrescentando que "as negociações com a parte ucraniana continuarão".

Mais tarde, precisou que mais oito pessoas foram retiradas das imediações da fábrica de químicos, onde se encontram entre 500 e 1.200 civis, de acordo com diversas fontes.

Até ao momento, Kiev não se pronunciou sobre a tentativa de evacuação de Azot, embora um responsável militar ucraniano tenha acusado das forças do Kremlin de bombardear a fábrica nas últimas horas, o que causou "graves danos".

Enquanto as tropas ucranianas resistem aos ataques russos em Severodonetsk, os combates prosseguem também noutras frentes.

Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) norte-americano, as forças russas continuam a preparar-se para "operações ofensivas a sudeste de Izium e a oeste de Liman" com o objetivo de avançar em direção a Sloviansk, bastião ucraniano em Donetsk.

Além disso, continua a pressão militar russa na região de Kharkiv, onde, de acordo com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, Kiev está a sofrer "perdas dolorosas".

Num discurso divulgado nas redes sociais, Zelensky admitiu que as forças ucranianas estão a sofrer muitas baixas em Severodonetsk e na região de Kharkiv.

Ao mesmo tempo, afirmou que é "vital" continuar a resistência no leste do país, onde se decide "quem dominará [o terreno] nas próximas semanas".

Zelensky voltou ainda a pedir mais armamento antimíssil moderno e acrescentou que não pode haver qualquer justificação para que os países aliados atrasem a sua entrega.

Neste contexto, o secretário-geral da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte), Jens Stoltenberg, assegurou que "os aliados se comprometem a continuar a fornecer o equipamento militar de que a Ucrânia necessita", incluindo armamento pesado e sistemas de longo alcance.

Salientou, contudo, que não é a NATO que está a organizar as entregas de ajuda ou armamento à Ucrânia para se defender da Rússia, mas sim os aliados, individualmente, que já lhe forneceram equipamento militar no valor de milhares de milhões de dólares, bem como ajuda económica e humanitária.

"Os aliados são inabaláveis no seu apoio à soberania e integridade territorial dos nossos parceiros próximos na Europa. E pelo direito de cada país a escolher o seu próprio caminho, livre de ingerências externas", concluiu Stoltenberg.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo advertiu, por seu lado, que "os Estados Unidos estão a brincar com o fogo" e que o Ocidente deveria desistir de continuar a fornecer armamento a Kiev para evitar uma escalada da situação.

Moscovo já anteriormente declarara considerar "alvos legítimos" de ataque os carregamentos de armas enviados pelo Ocidente a Kiev e hoje afirmou ter destruído um paiol militar na região ocidental ucraniana de Lviv.

Segundo o Ministério da Defesa russo, o armazém, onde se encontravam sobretudo peças de artilharia pesada norte-americanas M777 de 155 milímetros, situava-se perto da localidade de Zolochiv, cerca de 60 quilómetros a leste da capital regional.

Na terça-feira, as forças russas destruíram também uma "grande quantidade de armas e equipamento" dos EUA e de países europeus nas regiões de Dnipro e Donetsk, indicou o departamento militar.

A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 15 milhões de pessoas de suas casas -- mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

A ONU confirmou que 4.452 civis morreram e 5.531 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 112.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.