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Museu Etnográfico da Madeira dá a conhecer mostra 'S. João – Rituais e Superstições'

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No âmbito das Festas de São João da Ribeira, no Funchal, o Museu Etnográfico da Madeira (MEM) dá a conhecer 'S. João – Rituais e Superstições', através de uma mostra organizada a partir da rubrica online com o mesmo tempo, que vai estar patente ao público no Convento de São João, entre 15 a 25 de Junho.

A exposição, realizada a convite da Junta de Freguesia de São Pedro, decorre amanhã, quarta-feira, pelas 21 horas, após a primeira novena das celebrações, daquele que é o arranque e o regresso das Festas de São João.

Para marcar presença nas redes sociais, o MEM, criou há alguns anos, e entre outros projectos, uma rubrica online designada 'Tema do Mês'.

Este projecto mensal pretende divulgar diferentes temas da cultura material e imaterial da Região. Assim, durante este mês de Junho, altura dos Santos Populares, o MEM divulga 'S. João - Rituais e Superstições', um tema que é apresentado agora em formato físico e visitável.

Sobre a exposição

Coincidindo com a festa de São João, celebrada de 23 para 24 de Junho, foram associadas superstições, relacionadas com o solstício de verão, herdadas de deuses pagãos, entre as quais, vestígios de rituais de fecundidade, fertilidade e purificação.

Nesta noite, acreditava-se, que seres benéficos ou maléficos, manifestavam o bem e o mal, para que se praticassem rituais, utilizando o fogo, a água ou ervas, rituais esses, relacionados com a saúde.

Eram também comuns as práticas divinatórias e propiciatórias, as chamadas “sortes”, ou seja, adivinhações relacionadas com o futuro casamento e com as desejadas felicidade e prosperidade.

Como o povo continuou a celebrá-los, estes rituais foram absorvidos pelo Cristianismo e, na tradição cristã, este santo surge associado à água, associação justificada pela Igreja, com o baptismo de Jesus nas margens do rio Jordão.

A véspera do Dia de São João é um momento de ruptura do tempo, uma “noite aberta”, como refere o povo, na qual, a “ordem das coisas” pode ser alterada.

Considera-se, também, que neste período as “plantas bentas” (canavieira, murta, palma, buxo, louro e alecrim) são sagradas.

Colhidas de madrugada, antes do sol nascer, possuem virtudes medicinais e servem como amuletos de protecção contra o “mau-olhado (inveja) e outros “males”, queimando-as, sempre que necessário, para “perfumar” os espaços ou para cortar feitiços e afugentar os maus espíritos.

Por esse motivo, é muito comum comprarem-se, nesta época, “ervas bentas”.

Estas plantas servem, igualmente, para colocar no interior ou exterior das habitações (tapa-sóis, janelas, portas e varandas), protegendo a habitação.

As fontes e fontanários são, também, ornamentados com essas plantas, considerando o povo que ficam, assim, protegidos contra todo “o mal” e tornam a sua água “benta”.

Fazem-se, ainda, pequenos altares, em homenagem ao santo, nos becos e quintais das casas, enfeitados com as “plantas bentas” e flores da época. Segundo a tradição oral, estes costumes têm a sua origem na superstição de que, nesse dia, São João “desce à Terra para passear”, pelo que há que recebê-lo de forma digna.

A água, na ideia do povo, “dorme” todas as noites. Mas, na noite de São João, torna-se “benta”, adquirindo o poder da cura e há quem a conserve, servindo para aspergir a casa, quando existem suspeitas de “mau-olhado” ou outro qualquer malefício.

Na noite da véspera de São João, antes do nascer do sol, o povo crê, também, que se deve beber água dos fontenários ou colher o orvalho e guardá-lo, para curar doenças dermatológicas ou oftalmológicas.

É ainda comum a ida à praia, à noite, para tomar banho na água lampa (benta) que tem o poder de curar as mesmas doenças.

Outra superstição é a de acreditar-se que, ao se deslocar aos locais onde existe água, deverão ver a sua sombra. Caso não a vejam, há a possibilidade de essa pessoa falecer durante esse ano.

É também comum acenderem-se fogueiras com ramos secos e “plantas bentas” e lançarem-se balões de ar quente, rituais ancestrais, praticados pelo Homem no solstício de verão, para restaurar e potenciar as energias enfraquecidas do Deus Sol, destinadas a renovar a vegetação.