Mundo

Bachelet "particularmente alarmada" com ameaças a activistas e indígenas no Brasil

None
Foto EPA

A alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos manifestou-se preocupada, esta segunda-feira, com os "casos recentes de violência policial e de racismo estrutural" no Brasil, afirmando-se "particularmente alarmada" com as ameaças contra ativistas ambientais e povos indígenas.

"No Brasil, estou alarmada com as ameaças contra os defensores dos direitos humanos ambientais e os povos indígenas, incluindo a exposição à contaminação pela extração ilegal de ouro", disse Michelle Bachelet, em Genebra, durante a abertura da 50.ª sessão do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, numa intervenção em que analisou a situação das liberdades fundamentais no mundo nos últimos meses.

"Os recentes casos de violência policial e racismo estrutural são preocupantes, assim como os ataques contra legisladores e candidatos, particularmente os de origem africana, mulheres e pessoas LGBTI+, antes das eleições gerais de outubro", acrescentou.

Bachelet apontou o Brasil como exemplo de um país onde o espaço cívico está a ser reduzido e apelou para que as autoridades garantam o respeito pelos direitos fundamentais e pelas instituições independentes.

O discurso da ex-presidente chilena surge numa altura em que prosseguem, na selva amazónica brasileira, as buscas por um jornalista britânico e um ativista local que desapareceram há uma semana.

O jornalista Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, e o ativista Bruno Pereira estão desaparecidos desde 05 de junho no Vale do Javari, uma região remota da selva na Amazónia brasileira, perto das fronteiras do Peru e Colômbia, onde estavam a investigar as ameaças contra os povos indígenas.

O Vale do Javari, a segunda maior reserva indígena do Brasil, é conhecido por ser palco de conflitos, dominado pelo tráfico de drogas, roubo de madeira e mineração ilegal.

O ativista Bruno Pereira, na região há anos e que conhece bem a área, tinha sido alvo de várias ameaças de mineiros ilegais, madeireiros e até traficantes de droga que operam na região.

Dom Phillips, um jornalista veterano, no Brasil há 15 anos, trabalhou para vários meios de comunicação social internacionais, incluindo o Financial Times, New York Times e Washington Post, e estava atualmente a fazer investigação para um livro sobre o Vale do Javari.

O rasto de Phillips e Pereira perdeu-se em 05 de junho, quando viajavam da comunidade de São Rafael para a cidade de Atalaia do Norte, no estado do Amazonas, onde deveriam ter chegado nessa manhã de domingo.

Viajavam num novo barco, com 70 litros de gasolina, o suficiente para a viagem, e foram vistos pela última vez perto da comunidade de São Gabriel, a poucos quilómetros de São Rafael.

No domingo, bombeiros brasileiros encontraram uma mochila com um portátil e outros objetos na zona onde decorrem as buscas depois de anteriormente as autoridades brasileiras terem anunciado a descoberta de possíveis restos humanos na mesma área.