China e Austrália voltaram a dialogar dois anos depois
O embaixador chinês na Austrália disse este fim de semana que as relações entre os dois países entraram numa "nova conjuntura", com a eleição do novo Governo australiano e o primeiro contacto ministerial em mais de dois anos.
Xiao Qian fez uma avaliação otimista do futuro do relacionamento bilateral, num discurso proferido no sábado, perante a Sociedade para a Amizade Austrália -- China, em Perth, na costa oeste australiana. O discurso foi publicado hoje no portal oficial da embaixada.
"O cenário internacional, político e económico atravessa mudanças profundas e complexas. A relação China - Austrália entrou numa nova conjuntura, e tem agora muitas oportunidades", disse Xiao.
"A minha embaixada e os consulados-gerais chineses na Austrália estão prontos para trabalhar com o Governo federal australiano, governos estaduais e amigos de todas as esferas da sociedade, para que o relacionamento China -- Austrália progrida no caminho certo, para benefício dos nossos países e povos", acrescentou.
O discurso de Xiao foi feito um dia antes da reunião de uma hora entre o ministro da Defesa chinês, o general Wei Fenghe, e o seu homólogo australiano, Richard Marles, à margem de uma cimeira de segurança regional, em Singapura.
Marles descreveu a reunião como um "primeiro passo crítico", na reparação das relações bilaterais. Mas os observadores hesitam em descrever a reunião como um descongelamento das relações diplomáticas entre os países.
Dennis Richardson, ex-chefe da Defesa, Negócios Estrangeiros e da agência de espionagem Australian Security Intelligence Organization, e ex-embaixador australiano nos Estados Unidos, observou que ambos os governos aproveitaram a sua primeira oportunidade para terem contacto ministerial, desde que o novo Governo da Austrália foi eleito, no mês passado.
As relações bilaterais deterioraram-se, durante os nove anos em que uma coligação conservadora governou na Austrália.
"O facto de eles terem concordado em dialogar na primeira oportunidade é digno de nota", disse Richardson, citado pela imprensa australiana. "Mas temos ainda um longo caminho a percorrer", acrescentou.
Malcolm Davis, analista de estratégia e capacidade de Defesa do grupo de reflexão Australian Strategic Policy Institute, alertou contra o exagerar da importância da reunião.
"Eles tiveram uma reunião de uma hora onde trocaram, de forma franca e plena, os seus respetivos pontos de vista. Isto não equivale a restaurar o 'status quo' que existia antes de 2015, quando o relacionamento era razoavelmente bom", disse Davis.
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, deu os parabéns ao novo primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, dias após a sua vitória nas eleições, num gesto visto por alguns como uma tentativa da China de restaurar o relacionamento.
Albanese instou a China a mostrar boa vontade através do levantamento de uma série de barreiras comerciais oficiais e não oficiais criadas nos últimos anos contra vários bens oriundos da Austrália, no valor de milhares de milhões de dólares, incluindo carvão, vinho, cevada, carne bovina e frutos do mar.
As relações bilaterais bateram no seu ponto mais baixo depois de a Austrália ter pedido uma investigação independente sobre as origens da covid-19 e a resposta da China ao surto inicial.
O mais recente embaixador da China na Austrália estabeleceu um tom mais conciliador desde que chegou a Camberra, em janeiro, do que o seu antecessor, Cheng Jingye.
Cheng ameaçou, em 2020, com boicotes comerciais, se a Austrália persistisse com o seu apelo por uma investigação sobre as origens da covid-19.