Análise

Dramas presidenciais

As comunidades dispensam contenciosos que se alimentam de caprichos

Estimado Presidente da República. Envergonhados com o provincianismo reinante nas posturas dos decisores de topo da Região, os mesmos que não se dignaram celebrar o Dia de Portugal tanto em Londres, como em Braga ou, pasme-se, mesmo no Palácio de São Lourenço, escolhemos este meio para solicitar-lhe que analise com elevado sentido de Estado a falta de pachorra evidente para os incómodos dos deveres públicos, assumida sem hesitações, mais uma vez, na última quinta-feira, pelo Presidente do Governo Regional. Com viagem previamente marcada sabe-se lá para onde, Miguel Albuquerque tentou desviar atenções da balda em larga escala, alegando um eventual lapso ou provocação da Casa Civil da Presidência da República a propósito do convite para as celebrações do 10 de Junho. É mais do que óbvio que não houve qualquer “esquecimento” ou até “problema de comunicação ou de entendimento” com o Governo Regional. O que se passou é de natureza estritamente política que importa valorizar pois, no contexto em que vivemos, não vale tudo só porque a pandemia resiste e a guerra está para durar, logo, também é importante perceber que quem não tem argumentos válidos para explicar a ausência em serviço em fim-de-semana prolongado, nem soluções domésticas para resolver embaraços diplomáticos, dificilmente conseguirá prescindir da agenda repleta de momentos de satisfação de caprichos pessoais em favor dos legítimos interesses da “arraia miúda”.

Não temos razões para não acreditar que os serviços de relações internacionais da Presidência fizeram o seu trabalho tendo concluído que Albuquerque não ia a Londres simplesmente porque não podia ir e para onde já tinha mandado o director regional das Comunidades. Aliás, temos dados mais do que suficientes, alguns deles até já publicados, que na hora em que a Região foi chamada a acarinhar “cerca de um terço” dos emigrantes portugueses no Reino Unido com origens madeirenses preferiu, à mesma hora, gerar divisionismos incompreensíveis, para depois, quem sabe, até decretar ajuste de contas.

Concordamos que todo este execrável episódio revela amadorismo, desde a redacção abusiva de comunicados, alguns com erros de português, à ingratidão que expõe a Região ao ridículo. Mas não nos revemos nos prolongados amuos sem nexo que, como já escrevemos, se agudizaram desde que Paulo Cafôfo é secretário de Estado das Comunidades. A escolha de Costa criou um desconforto inexplicável a Miguel Albuquerque que depois de ter dito que não dialogava com perdedores locais, não suporta ver o conterrâneo no palco político nacional, tentando sem sucesso circunscrever as relações institucionais ao patamar da direcção regional das Comunidades, que por sinal é por si tutelada.

Estimado Presidente da República, diagnosticado o drama local e por muito que custe ignorar disparates, desejamos que continue a visitar-nos e a tirar ‘selfies’, a fazer mais pela promoção das nossas ilhas do que muitos que juraram tomar decisões na defesa dos interesses da Região, mas que passam o tempo entretidos com hostilidades que nos lesam de forma permanente.