Adesão à UE é prioridade e recusa poderá ser "derrota moral"
A principal prioridade da Ucrânia é a adesão à União Europeia e a recusa poderá ser "a primeira derrota moral" do país, mas também uma "tragédia" para a Europa, apontou o ex-secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros Almeida Leite.
A organização United For Ukraine (U4U), que reúne políticos de mais de 30 países, incluindo Portugal, está a realizar uma visita de dois dias à Ucrânia, que inclui encontros com vários responsáveis políticos.
Fracisco Almeida Leite e a antiga deputada do PSD Ana Miguel dos Santos integram a comitiva desta aliança internacional e interpartidária, que conta com mais de 200 membros, entre deputados, eurodeputados e ex-membros dos governos.
"A manhã foi muito positiva para termos um enquadramento completo do que se está a passar. Estivemos na Rada [parlamento] com a vice-presidente da assembleia, que nos alertou para várias coisas, algumas preocupantes e altamente sensíveis. Esta responsável, Olena Kondratiuk, sublinhou que a Ucrânia dá toda a prioridade, neste momento, à concessão do estatuto de candidata à União Europeia", adiantou Almeida Leite, em declarações à Lusa por telefone, a partir de Kiev.
De acordo com o antigo governante, esta ideia tem vindo a ser transmitida à U4U por todos os responsáveis políticos, como ministros, ministros-adjuntos e responsáveis parlamentares da Ucrânia.
Assim, caso o país veja recusada a sua pretensão de ser candidato à adesão à União Europeia (UE), será uma "derrota clara" em termos estratégicos e políticos, mas também a "primeira grande derrota moral" para o povo ucraniano.
Apesar de ressalvar que a adesão formal da Ucrânia à UE pode demorar alguns anos e que países como a Geórgia e a Moldova já estão neste processo, Almeida Leite sublinhou que a Ucrânia "tem grandes diferenças", uma vez que está numa "situação limite", que poderá trazer consequências para a estabilidade do continente europeu.
"Temos a obrigação de ajudar a Ucrânia. O povo ucraniano é profundamente europeu e está a demonstrar que não só está a defender as suas próprias fronteiras, mas os valores europeus, nós todos e até Portugal, um dos países que está mais longe de centro do acontecimento", acrescentou.
No entanto, conforme destacou, a Ucrânia terá, no futuro, muita coisa por fazer para se tornar "num membro de pleno direito", nomeadamente, em relação à "democraticidade das suas instituições, combate à corrupção e ao Estado de Direito".
Para o antigo governante, este é "um processo natural e estar quase dentro [da UE] é mais fácil do que estar com os dois pés fora".
Desta forma, considerou que os europeus têm que contribuir para este processo, advertindo que, caso contrário: "Amanhã uma tragédia pode estar às nossas portas".
Num comunicado conjunto, a que a Lusa teve acesso, a U4U e o parlamento ucraniano (Rada) apresentaram um conjunto de razões pelas quais a União Europeia (UE) deve integrar a Ucrânia, consolidando a "liberdade, democracia e estabilidade" do país.
"A Ucrânia sempre fez parte da Europa e o seu destino está na Europa [...]. Em 2022, a Ucrânia tem lutado pela democracia europeia na guerra mais intensa desde 1945. A guerra já provocou sacrifícios heroicos de muitos ucranianos: milhares foram mortos e milhões estão deslocados dentro do país e por toda a Europa", lê-se no documento.
A U4U e o parlamento ucraniano defenderam que a UE tem que integrar a Ucrânia, evitando que o país fique numa "zona cinzenta" em termos geopolíticos e que o líder do Kremelin "acredite erroneamente que o Ocidente" não está a prestar apoio.
Por outro lado, destacaram que muitas empresas ucranianas e europeias estão empenhadas em reconstruir o país, destacando que grande parte do investimento privado seguirá uma espécie de novo Plano Marshall.
Soma-se ainda o facto de a Ucrânia ter um "potencial inexplorado" de crescimento, que poderá beneficiar todas as economias do mercado único da UE.
De acordo com a mesma nota, a Rússia é uma "enorme ameaça" à segurança da Europa, o que pode ser mitigado através da "construção de uma Ucrânia próspera e estável".
A política de integração na UE é assim "a força motriz mais importante" para a estabilidade da Europa.
"Nenhum país do continente europeu estabelecido como uma democracia independente após o colapso da União Soviética foi capaz de ter sucesso por conta própria, sem a integração europeia. O mesmo vale para a Ucrânia", concluíram.
A delegação que se encontra em Kiev junta 16 elementos de vários países como Portugal, Espanha, Suécia, Itália, Alemanha e Lituânia.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia, que mereceu a condenação de grande parte da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição de sanções à Rússia.