Procuradoria Europeia não deixará de fiscalizar PRR
O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) estará "sob a atenção" da Procuradoria Europeia, ainda que não tenha sido convidada pelo Governo português a integrar a comissão de acompanhamento do programa, disse à Lusa o procurador europeu José Guerra.
"O Governo português estabeleceu internamente um grupo de trabalho, uma comissão de acompanhamento do PRR para o qual a Procuradoria Europeia [EPPO na sigla em inglês] ou os seus elementos em Portugal não foram convidados. [...] Naturalmente que o PRR estará sob a nossa atenção. Não deixaremos de levar a cabo as nossas funções, mas não fazemos parte da entidade que o Governo português criou para acompanhar a execução do programa", afirmou.
Há cerca de duas semanas, um relatório de acompanhamento do Ministério Público ao PRR apontava problemas como falta de recursos humanos especializados para acompanhar o programa e falhas ao seu sistema de controlo, nomeadamente nos mecanismos de prevenção de conflitos de interesses, de fraude e corrupção, um documento cujo teor José Guerra recusou comentar.
Destacou, por outro lado, que do ponto de vista da EPPO, "é um pouco despiciendo" centrar a análise nos programas comunitários em que as verbas, e os crimes, têm origem, uma vez que se trata sempre de dinheiro da União Europeia (UE) e discutir se o problema está no PRR ou não "serviria apenas para alimentar uma discussão à qual a EPPO não se quer juntar".
"Do ponto de vista jurídico-criminal, do ponto de vista da proteção dos interesses da UE, não há nenhuma diferença entre o dinheiro vindo de um programa ou do programa anterior. É dinheiro da UE. Seja qual for o programa que originou esse dinheiro, nós protegê-lo-emos com a mesma intensidade, com o mesmo empenho e com a mesma força", disse.
José Guerra recusou ainda que o PRR possa trazer um problema de sobreposição de competências na investigação entre a EPPO e o Ministério Público (MP) nacional, sublinhando que as situações previstas no regulamento em que os MP nacionais têm primazia na investigação deixam pouca margem para que a situação se coloque.
"Vejo com muita dificuldade que haja aqui sobreposição de competências, mas de qualquer forma, não é para mim nenhuma preocupação, porque eu não tenho das relações entre a EPPO e o MP nacional uma visão concorrencial ou competitiva. A visão que eu tenho é uma visão de complementaridade. A EPPO foi criada para reforçar a proteção dos interesses financeiros da União Europeia e não para ser um qualquer 'primus inter pares'", disse.
Ainda assim, se a situação se puser, José Guerra explicou que a Procuradoria Europeia não terá "nenhum problema com isso" e disse esperar uma atitude recíproca de colaboração, assim como aproveitar o conhecimento acumulado do MP português, que salientou ter "uma enorme experiência na investigação destes crimes", além de "muita informação que seguramente será útil" à EPPO.
A Procuradoria Europeia assinala hoje o seu primeiro ano de atividade, enquanto entidade judicial comunitária dedicada à fiscalização e investigação de crimes relacionados com o uso de verbas comunitárias, que podem passar por fraude na obtenção de subsídios, corrupção de funcionários, fraudes ao IVA, contrabando, entre outros, do qual resulte prejuízo de valor superior a 10 milhões de euros que envolvam dois ou mais Estados-membros da União Europeia entre os 22 que integram a EPPO.