Von der Leyen aponta "progressos" em reunião com Órban sobre "segurança energética"
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apontou hoje "progressos" e "esclarecimentos" após uma reunião com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, sobre "segurança energética", numa altura em que Budapeste bloqueia o embargo ao petróleo russo.
O encontro entre os dois líderes, que ocorreu durante um jantar de trabalho num mosteiro carmelita em Budapeste, "ajudou a esclarecer alguns pontos sobre as sanções a segurança energética" da Hungria, disse no Twitter Ursula von der Leyen.
"Fizemos progressos, mas vai ser necessário mais trabalho", acrescentou, anunciando a próxima realização de uma videoconferência "com outros "atores da região" para "reforçar a cooperação regional nas infraestruturas petrolíferas".
Sendo um país dependente dos hidrocarbonetos russos, a Hungria está a pedir aos seus parceiros europeus garantias sobre o seu fornecimento de energia para concordar com um sexto pacote sanções contra Moscovo, incluindo a suspensão das compras de petróleo da Rússia.
"A Hungria não vai dar o seu consentimento à proposta de sanções da Comissão contra a Rússia, porque é um problema para ela e não oferece uma solução", declarou o chefe de diplomacia húngara, Peter Szijjarto, citado hoje pelo porta-voz do Governo, Zoltan Kovacs.
A proposta da Comissão teria o efeito de "uma bomba atómica para a economia da Hungria e destruir o nosso fornecimento energético estável", explicou.
No entanto, é necessária a unanimidade dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE) para a adoção de novas sanções.
Há "necessidade de garantir fontes alternativas de fornecimento aos países sem litoral dependentes do petróleo russo através de oleoduto". E não é fácil", sublinhou no domingo um diplomata europeu questionado pela agência de notícias AFP no final de um encontro entre os representantes dos 27 em Bruxelas.
"São novas infraestruturas e mudanças tecnológicas que exigem não só financiamento europeu, mas também acordos entre vários Estados-membros. Estamos a fazer progressos, mas isso mecanicamente demora um pouco", acrescentou.
A proposta apresentada na passada quarta-feira por Bruxelas aos 27 Estados-membros prevê a cessação das importações de petróleo bruto russo no prazo de seis meses e de produtos refinados, em particular o gasóleo, até ao final de 2022.
"No último pacote de sanções, começámos com o carvão, agora estamos a abordar a nossa dependência do petróleo russo. Sejamos claros, não vai ser fácil [pois] alguns Estados-membros são fortemente dependentes do petróleo russo, mas temos simplesmente de trabalhar nesse sentido e propomos agora uma proibição do petróleo russo", declarou na altura Ursula von der Leyen.
Em causa está um sexto e novo pacote de sanções contra Moscovo devido à invasão da Ucrânia, no final de fevereiro passado, após a Comissão Europeia ter abrangido, no anterior conjunto de medidas restritivas, a proibição da importação de carvão.
Agora está em causa "uma proibição total de importação de todo o petróleo russo, marítimo e oleoduto, bruto e refinado", elencou Ursula von der Leyen, falando numa eliminação gradual a realizar "de forma ordenada, de modo a permitir [...] assegurar rotas de abastecimento alternativas e minimizar o impacto nos mercados globais".
Ainda assim, este sexto pacote de sanções à Rússia, centrado na proibição gradual das importações de petróleo pelos Estados-membros até final do corrente ano, prevê uma derrogação de um ano suplementar para Hungria e Eslováquia.
No entanto, ainda nesse dia, a Hungria disse rejeitar a proposta de um embargo progressivo da UE ao petróleo russo nos termos propostos pela Comissão Europeia, alegando que põe em causa a segurança energética do país.
A guerra na Ucrânia expôs a excessiva dependência energética da UE face à Rússia, que é responsável por cerca de 45% das importações de gás europeias. A Rússia também fornece 25% do petróleo e 45% do carvão importado pela UE.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.