Madeira

José Manuel Rodrigues pede acção ao governo e aos municípios

Rui Silva/ASPRESS
Rui Silva/ASPRESS

O presidente da Assembleia Legislativa da Madeira lamenta que não se tenha aprendido as lições da história e estejamos, novamente, perante uma situação de crise de guerra, com consequências para todas as populações, incluindo na Madeira.

O Governo e os municípios têm instrumentos para minorar tais consequências e devem fazê-lo.

Veja na íntegra, o discurso de José Manuel Rodrigues:

"É com muito honra que me associo, em nome de todo o povo das nossas ilhas, que a Assembleia Legislativa representa, a esta comemoração dos 571 anos do concelho de Machico.

Terra primeira das Descobertas, Machico é o início de uma longa História Portuguesa de achamentos, povoamentos, cruzamento de civilizações e encontro de povos, que a todos nos orgulha.

A nossa Expansão não está isenta de erros e defeitos, mas é com certeza uma das maiores obras que um povo concebeu em prol da evolução da Humanidade.

E Machico é esse começo, essa aventura, esse início da primeira globalização.

Gente de descoberta, os machiquenses são a expressão mais pura dos ilhéus, esses seres de que alguém disse terem o horizonte nos olhos, o sal no corpo, a ilha no coração e nas veias um mar imenso.

Esse mar sem fim que fomos navegando até novas terras, dando ao Mundo já visto o Conhecimento e a Cultura de outros Mundos desconhecidos.

Apesar deste caminho de encontros e partilhas percorrido; pese embora todos os cruzamentos e ligações entre povos; mau grado todas as tragédias acontecidas; não obstante sabermos as consequências dos conflitos, a verdade é que aprendemos pouco com os erros cometidos e este volta a ser um tempo conturbado e sangrento, um século depois da primeira Grande Guerra e passadas sete décadas do final Segunda.

Depois de uma crise financeira mundial de efeitos nefastos, ocorrida ainda há dez anos, de que estávamos finalmente a recuperar; com uma pandemia ainda a fazer sentir as suas pesadas consequências na economia e na sociedade, eis que nos surge esta guerra sem justificação, que abala o coração da Europa, que está já a ter efeitos negativos em todo o mundo e ameaça toda a Humanidade.

A designada estagflação que já vinha a germinar com a pandemia, com paralisia económica, preços a disparar e juros a aumentar, pode ganhar uma outra dimensão, se esta guerra se prolongar, e ameaça o crescimento económico que se previa para os próximos anos.

Esta realidade é, já hoje, sentida pelos trabalhadores, que veem o seu poder de compra diminuir face ao aumento de preços dos bens essenciais, é verificada pelas famílias quando estas se debatem com prestações mais altas de crédito de habitação e é registada pelas empresas que se confrontam com o crescimento dos custos dos combustíveis e das matériasprimas.

Há razões para preocupação, pois, ainda agora nos reerguíamos de uma crise sanitária que provocou ruturas no tecido económico e social e já corremos sérios riscos de cair numa nova situação de dificuldade para as famílias e as empresas.

Compete aos Governos, aos Parlamentos e aos Municípios estarem atentos a esta realidade e usarem todos os instrumentos ao seu dispor, nomeadamente os fiscais, para minimizarem as consequências desta estagflação, em especial na vida daqueles que têm menos rendimentos e são mais carenciados, e das pequenas e médias empresas que sobrevivem com imensos sacrifícios.

Neste quadro de dificuldades, há também boas notícias, designadamente a recuperação a que se assiste nos diversos setores económicos da Madeira e do Porto Santo, especialmente no turismo, no imobiliário, nos serviços e nas empresas tecnológicas.

Se conseguirmos manter esta retoma, se aplicarmos bem, e com caráter reprodutivo, as elevadas verbas do Programa de Recuperação Económica e Resiliência; se alcançarmos uma boa execução do novo Quadro Comunitário de Apoio 2023-2030; se a União Europeia der corpo e músculo à nova Estratégia para as Regiões Ultraperiféricas, então, há fundadas esperanças de que podemos lançar um novo período de prosperidade e desenvolvimento nas nossas ilhas.

Dirão os pessimistas que são muitos «ses», e é bem verdade; ripostarão os otimistas que não há razões para duvidar das nossas capacidades, e é igualmente certo;  mas esclarecerão os realistas que o sucesso deste novo ciclo não depende apenas de nós, mas a verdade é que será, sobretudo, o resultado do trabalho de todos os madeirenses e porto-santenses.

Na certeza, porém, de que este desafio, de iniciar um novo ciclo de progresso na nossa Região, exige uma grande articulação entre Governo e autarquias, empresas e trabalhadores, instituições e famílias, para que esse ciclo venha a representar um salto qualitativo nos nossos níveis de vida, redistribuindo com mais justiça a riqueza criada, criando emprego qualificado e mais bem remunerado, e gerando novas oportunidades para todos.

Tal como outrora ultrapassámos tantos horizontes; tal como no passado vencemos tantos obstáculos, estou certo de que voltaremos a estar à altura da tarefa gigante, mas igualmente estimulante, que temos pela frente, de criar uma terra mais justa e fraterna para cada um dos nossos concidadãos

Contamos com Machico e Machico conta com todos os madeirenses! Tenho dito".