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Só nos resta “vir para a rua gritar”!

No passado dia 1 de maio, Dia do Trabalhador, as centrais sindicais levaram a cabo, em todo o país, diversas ações de protesto e de reivindicação por melhores condições de vida, para quem vive da sua força de trabalho e do seu salário. Tais ações revestem-se de uma importância fundamental porquanto vivemos, de novo, tempos de empobrecimento causados pela escalada de preços dos bens alimentares, dos combustíveis, da energia e outros bens de primeira necessidade. Desde há dois meses a esta parte, de acordo com dados da DECO, o cabaz de produtos essenciais aumentou em cerca de 22 euros ultrapassando, já, os 205€. Este aumento de 12,18% não foi acompanhado pelo necessário aumento, na mesma proporção, dos rendimentos das famílias. Se, no privado, os aumentos salariais, na esmagadora maioria dos setores, decorreram do aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN), e quase não se notaram, na administração pública as ridículas atualizações salariais, de 0,9%, colocaram a generalidade os trabalhadores no limiar da pobreza, cada vez com maiores dificuldades para colocar comida na mesa e pagar a renda/prestação bancária e demais despesas essenciais de um agregado. Com um inflação prevista de 4%, os aumentos salariais verificados de 0,9%, e os míseros crescimentos das pensões, exigiriam aumentos intercalares que o Governo da República já recusou. Perante o empobrecimento generalizado que já está a ser sentido, com os aumentos galopantes de bens alimentares essenciais, só resta aos trabalhadores, como cantava o Zeca Afonso, “vir para a rua gritar”. Além disso, além dos aumentos intercalares de salários e pensões, é preciso forçar quem governa a fixar os preços de bens alimentares essenciais de primeira necessidade para evitar a especulação e o roubo que as grandes superfícies, desavergonhadamente, perpetram contra quem vive do seu mísero salário. A mesma atenção tem que ser dada aos verdadeiros “assaltos à mão armada” que as gasolineiras fazem, todos os dias. E não me venham com as tretas liberais que é preciso deixar o mercado funcionar e que o Estado não deve intervir na Economia. Sabemos que os liberais, adeptos da economia de mercado, acham bem que os lucros da GALP tenham aumentado 129 milhões de euros, no primeiro trimestre de 2022, comparativamente ao período homólogo do ano anterior. Pena que esses lucros pornográficos, tenham sido alcançados à custa da vampirização dos parcos recursos dos consumidores que, na sua maioria, vivem com magros salários. É preciso reforçar a Luta e não é nada menos que isso que os trabalhadores esperam das suas organizações representativas.

Post-Scriptum: Foi lançado na Madeira, na pretérita semana, o livro “José Afonso, Todas as Canções”. Esse lançamento, levado a cabo pela Associação José Afonso (AJA), na Feira do livro de Machico e no Funchal, trouxe à Madeira, entre outras pessoas, Francisco Fanhais, um dos poucos Cantores de Intervenção ainda vivos, que trabalhou bem de perto com Zeca Afonso. O livro, segundo o site da AJA, “reúne as partituras, letras e diagramas de acordes de 159 canções de José Afonso” e pode ser adquirido diretamente no site da Associação e em algumas livrarias. Só é pena que tenha sido dada tão pouca atenção, por parte da esmagadora maioria dos órgãos de comunicação social, a este lançamento realizado na Madeira.