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Resiliência

Teremos de fazer opções inteligentes, e hoje o maior desafio é saber evitar as dependências exteriores

A resiliência é a capacidade de adaptar ou de reagir positivamente às adversidades, é a força de superar, a perseverança.

Não é por acaso que o povo madeirense é resiliente. Essa tem sido a nossa postura perante as dificuldades que temos atravessado, como catástrofes naturais, incêndios, crises, e até numa pandemia…

Curioso é perceber que sem uma adversidade no momento, temos, muitas vezes, dificuldade em antecipar e preparar-nos. Reagimos com eficiência, mas nem sempre somos pró-ativos ou eficientes temporalmente com os projetos que temos.

A guerra, embora ainda não a estejamos a sentir de forma intensa, tem tido impactos na nossa vida que, inevitavelmente, assumirão uma dimensão mais dramática num futuro próximo. O aumento considerável do custo de vida, com aumento do custo dos combustíveis, de todo o tipo de produtos, e até a efetiva falta de algumas matérias-primas, começa a ser uma realidade.

Acho, no entanto, que esta infelicidade oferece-nos a oportunidade de aceitarmos um grande desafio, que é potenciar a nossa capacidade de sermos quase autossustentáveis em diversos setores. Ainda que seja impossível sermos auto suficientes na totalidade, cabe-nos perceber até que ponto poderemos deixar ser tão dependentes do exterior.

Se, eventualmente é totalmente impossível transformar ou produzir imensos produtos, ou até armazenar matérias primas, porque simplesmente não as temos ou não possuímos essa indústria, será que não nos podemos proteger mais no que diz respeito à energia e a certos bens alimentares?

Será que, com o nosso clima, sol, vento, energia do mar, não conseguiremos uma verdadeira transição energética para as energias renováveis, relegando a energia fóssil a um nível quase residual? Obviamente que o investimento seria colossal por parte do governo, mas imaginem só se os edifícios públicos, edifícios de entidades sem fins lucrativos, fossem providos de sistemas energeticamente eficientes, e se os transportes públicos e veículos destas instituições fossem obrigatoriamente elétricos.

Só nisso, quantifiquem a poupança de energia. Agora, adicionem ainda mais apoios, aos existentes, às famílias e empresas para que todos tenham, efetivamente, capacidade de implementar também estes mesmos sistemas e tornem as suas casas ou negócios mais eficientes.

Talvez pareça utópico, mas será que não conseguiremos mesmo tornar a nossa região com cerca de 280.000 mil habitantes, numa “Free Fossil Region”? Não será possível concretizar e estender o desejo do governo de tornar o Porto Santo numa “Free Fossil Island” a toda a região, procurando todos os apoios comunitários possíveis, suportados na premente necessidade desta transição?

Pertencemos a uma Europa, cujos principais decisores se debatem sobre esta extrema necessidade e temos condições invejáveis para o concretizar.

Mas vamos à agricultura e à pecuária. Terá a ilha capacidade para se “alimentar”? Olho para os Açores, bem pequeninos que exportam para o mundo carne, leite e derivados. A Fajã da Ovelha e Ponta do Pargo já foram o celeiro da Madeira, esta ilha já produziu o aclamado ouro branco, o açúcar para o mundo, já fomos igualmente uma ilha com muitos barcos de pesca. Hoje tudo é muito diferente e a maior parte das pessoas abandona o sector primário. Todos os anos vejo os agricultores a queixarem-se que não conseguem escoar os seus produtos, devido à forte e desigual concorrência exterior, fruto das normas da União Europeia…

Não será o momento de um plano político e reivindicativo dos nossos deputados na Europa e do governo português, no sentido das regiões ultraperiféricas poderem proteger mais a sua produção interna?

Se no passado o pensamento que se segue podia parecer simplesmente ridículo, hoje é uma realidade possível:

Se houver uma guerra nuclear ficamos, possivelmente, neste cantinho, isolados do mundo. Não haverá transportes marítimos, nem transportes aéreos. Vamos comer o quê? Vamos buscar energia onde? Os carros param, as casas deixam de ter luz, voltaremos à idade da “pedra”? Demasiado dramático? Alguém imaginaria, em janeiro de 2020 que o mundo parava com uma pandemia, ou que teríamos uma guerra ali ao “lado” em 2022, com uma das maiores potências nucleares do mundo?

Portugal tem o PRR - Plano de Recuperação e Resiliência que abrange todos os setores. Teremos de fazer opções inteligentes, e hoje o maior desafio é saber evitar as dependências exteriores, presentes e futuras, sejam elas quais forem.