Amnistia Internacional diz que tropas russas cometeram crimes de guerra
A Amnistia Internacional divulgou hoje um relatório, com os resultados de uma investigação no terreno, em que defende que as forças russas têm de enfrentar a justiça por crimes de guerra cometidos nas regiões noroeste da Ucrânia.
O documento "'He´s not coming back': War Crimes in Northwet Areas of Kyiv Oblast" ("'Ele não vai regressar': Crimes de Guerra no Noroeste da Província de Kiev" reporta os resultados da investigação que segundo a organização de defesa de direitos humanos com sede em Londres indica que foram cometidos crimes de guerra em solo ucraniano pelas forças russas.
Os testemunhos de dezenas de pessoas e a recolha de provas referem-se a bombardeamentos totalmente ilegais contra civis em Borodyanka e execuções sumárias nas cidades de Bucha, Andriivka, Zdyzhivka e Vorzel.
A delegação da Amnistia Internacional (AI) esteve na região nos últimos dias, onde registou os testemunhos dos sobreviventes e familiares das vítimas assim como manteve contactos com elementos da Administração ucraniana.
"O padrão dos crimes cometidos pelas forças da Rússia que nós documentamos incluem ataques ilegais e a matança intencional de civis", disse a secretária-geral da AI, Agnès Callamard.
"Mantivemos encontros com as famílias cujos membros foram assassinados em horríveis ataques ou cujas vidas mudaram para sempre por causa da invasão da Rússia. Nós apoiamos os pedidos de justiça dessas pessoas e apelamos às autoridades ucranianas, ao Tribunal Penal Internacional e outras instâncias para que as provas sejam mantidas para que possam apoiar futuras queixas por crimes de guerra", disse Callamard.
"É fundamental que todos os responsáveis, incluindo a cadeia de comando seja levada à justiça", disse ainda a secretária-geral da organização.
Em Borodyanka, a Amnistia Internacional descobriu que pelo menos 40 civis foram assassinados em ataques desproporcionados e indiscriminados e que destruíram as infraestruturas da zona provocando que milhares de deslocados.
Em Bucha e outras cidades da região noroeste de Kiev, a Amnistia Internacional documentou 22 casos de assassinatos ilegais pelas forças militares da Rússia sendo que a maior parte foram "execuções extrajudiciais".
Sobre ataques aéreos a organização não-governamental destaca os factos ocorridos nos passados dias 01 e 02 de março quando uma série de bombardeamentos efetuados pela aviação de combate russa destruiu oito edifícios de apartamentos na cidade de Borodyanka, a cerca de 60 quilómetros de Kiev, onde viviam mais de 600 famílias.
Nestes ataques aéreos seguidos de uma operação de infantaria apoiada por veículos blindados morreram pelo menos 40 habitantes.
A maior parte das vítimas mortais ficou soterrada nos escombros dos prédios sendo que outros residentes morreram nos apartamentos ou nas caves dos edifícios onde procuraram refúgio.
A zona residencial não era um alvo militar ucraniano e apesar de alguns cidadãos ucranianos terem disparado armas de fogo contra os blindados russos perto dos edifícios o ataque "desproporcionado" contra os prédios habitados por civis constitui um "crime de guerra".
Na cidade de Bucha, a 30 quilómetros a norte da capital, a AI destaca a morte de cinco homens durante a ocupação pelas forças russas no final do mês de fevereiro.
O caso da morte dos cinco homens foi documentado e as vítimas foram identificadas sendo que a investigação da AI indica, através de provas e testemunhos no local, que o grupo foi executado pelos soldados russos.
Por outro lado, a AI está na posse de uma série de documentos militares russos que foram encontrados em Bucha e que segundo os investigadores da organização identificam as unidades militares que estiveram presentes na cidade incluindo os membros do Regimento 104 do VDV, as Forças Aerotransportadas da Rússia, equipadas com material de guerra especial como espingardas de calibre 9,39 mm.
Na povoação de Novyi Korohod é referido o caso de um operário da construção civil de 46 anos que foi encontrado morto com as mãos atadas atrás das costas.
O homem foi assassinado com um tiro na cabeça.
A Amnistia Internacional frisa que as execuções extrajudiciais cometidas em conflitos armados constituem crimes de guerra.
Da mesma forma, crimes indiscriminados e desproporcionados também são considerados crimes de guerra sendo que os responsáveis devem ser julgados em tribunal.
"De acordo com a doutrina militar, elementos das hierarquias superiores, incluindo comandantes militares e líderes civis, como ministros ou chefes de Estado que - conhecendo os crimes de guerra - cometidos pelas Forças Armadas nada fizeram para parar as ações ou que puniram os envolvidos são também responsáveis pelos crimes", refere o documento da AI.