Prioridade no acolhimento de refugiados é a segurança
A prioridade no acolhimento de refugiados de guerra deve ser sempre a proteção das pessoas, defendeu em entrevista à Lusa o diretor da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), alertando para a necessidade de cuidados específicos.
"Nunca nos podemos esquecer de que não estamos a tratar aqui apenas de simples acolhimento. Estamos a tratar de acolhimento de pessoas que têm familiares seus em zonas de conflito, familiares que podem ser baixas no conflito militar e isso poderá ter um efeito ainda mais impactante na já frágil situação de vulnerabilidade destas pessoas", advertiu André Costa Jorge.
O dirigente da PAR referiu-se desta forma a situações como a verificada em Setúbal, em que refugiados da guerra na Ucrânia, invadida pela Rússia a 24 de fevereiro, foram encaminhados na autarquia para atendimento por elementos de uma associação russa, considerada pró-Putin, num caso denunciado por uma associação de ucranianos em Portugal e pela própria embaixadora da Ucrânia em Lisboa, Inna Ohnivets.
"Estou a falar do caso de Setúbal e em qualquer caso. Basta que nos ponhamos na pele destas mulheres, que podem perder, a qualquer momento, filhos, o marido ou os irmãos, os pais. E estão aqui sozinhas, não conhecem a língua, têm pouca rede social, pouco suporte, estão longe", sublinhou.
Não raras vezes, as organizações humanitárias recebem a informação de que as pessoas estão "muito frágeis", acrescentou o diretor da PAR, que está também à frente do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JSR, na sigla em inglês).
"Esperar que estas pessoas estejam já com uma enorme disponibilidade para estarem a trabalhar, como se não tivessem problemas, para estarem a viver e a integrar-se como se esta fosse a situação que sempre tivessem desejado, é haver aqui uma espécie de desenquadramento de expectativas", alertou.
O dirigente acentuou a diferença entre a condição de refugiado e a de imigrante ou migrante económico, numa tentativa de sensibilização para a necessidade de respostas adequadas, após o primeiro período de acolhimento.
"Era importante reforçar não apenas a resposta ao mercado de trabalho, adequada aos perfis das pessoas, mas também reforçar todas as respostas sociais que permitam que as pessoas acedam de forma segura ao mercado de trabalho", defendeu.
Por outro lado, grande parte das ofertas de emprego depende do domínio da língua portuguesa: "Tudo isso levará o seu tempo", admitiu André Costa Jorge.
As empresas que tenham ofertas de trabalho podem recorrer ao Serviço Jesuíta aos Refugiados, que se encarrega de as articular com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). "É necessário também e há vantagens, nomeadamente fiscais, para as empresas que disponibilizem vagas para o acolhimento de refugiados", indicou.
"O nosso papel aqui é sermos facilitadores do processo de recrutamento e seleção e também estamos a desenvolver programas de formação à medida das necessidades do empregador", acrescentou André Costa Jorge.
As empresas, por seu lado, têm a "grande vantagem" de receberem acompanhamento na inserção dos novos trabalhadores. "Se são detetados aspetos, quer da dimensão psicológica, quer da dimensão social que é necessário atalhar, então nós estamos em condições de fazer esse acompanhamento", explicou.
A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, anunciou na semana passada, no parlamento, que foram celebrados 1.400 contratos de trabalho com cidadãos que se refugiaram em Portugal da guerra na Ucrânia, de onde já fugiram 5,5 milhões de pessoas.