À volta da guerra incoerente e amarga
O entrevistador pediu-me que especulasse sobre a guerra, mas não autorizou dizer o seu nome.
- Como é que vê a situação desta guerra na Ucrânia?
Uma situação de quase falência dos donos do mundo.
- Bem, isso é ver as coisas muito por cima. Como acabará?
À primeira vista as competências mundiais de todos os lados sentem-se reféns em labirintos em que se meteram. Debatem-se em mil incertezas e dilemas. As contradições, inverdades e incoerências mantem-se a cada dia qua passa. Crises, incertezas e abismos ameaçam.
- Não acha que algum dos lados tem razão?
Razão? Penso que nenhuma das partes a tem. As guerras castigam a todos.
- Putin parece teimar que ele tem. E até parece que se apoia no tratado de Budapeste de 05.12.1994.
Não entendo. Esse memorando garantia que a Ucrânia teria segurança na sua independência soberana e integridade em troca de não ter armas nucleares. E terá sido essa integridade que foi violada em 2014 e agora de novo.
- Que pensa do fim desta guerra, se é que irá acabar em breve.
Ao ler dezenas de opiniões que se vão repetindo, paralelas a horrores bárbaros de morte e sofrimento nas cidades ucranianas, não aparecem princípios legais de consenso que tragam esperança, por enquanto.
- Será que não apresentam saídas?
Não parece ser isso que interessa a grande parte dos fabricantes de guerras e armas. Nem se consegue entender donde poderia vir uma solução verdadeira. As partes tentam mostrar que são os maiores: Cada um quer demonstrar que é o maior, mais poderoso, mais armado para ganhar. Nenhum aceita uma autoridade de consenso, acima deles. Se uns parecem aceitar a ONU, outros não; e até ameaçam com o nuclear e o veto para lembrar o seu grande poder. Outros replicam: maiores somos nós. Arrogam-se na posição de Deus; e não aceitam a regra das suas leis e ordem.
- Essas leis divinas valem apenas para os que aceitam Deus, não é?
Se partirmos dessa suposição, dá-me razão de que a sociedade dos pretensos donos disto tudo, está em estado de quase falência; agarram-se a poderes de Deus, mas mentem e contradizem-se gerando terror e vazio de esperança para o amanhã de Paz. Pior que isso, causam mares de ódio, violência, vingança e morte.
- Contudo, muitos alardeiam que assim conseguem a paz.
Absurdo. Isso é Paz? À custa de mais mortes e horrores de sofrimento? A sua ordem mundial de guerra e de morte, uns mais ricos e milhões mais miseráveis, dá em insensatez absurda.
- E o que pensa dos que confiam nas engenhocas de Inteligência Artificial e máquinas que tomam decisões. Sabe que parte da guerra já se desenrola com robots e chips servidos por milhares de hackers e magos guerreiros que as fabricam e servem. Acredita que elas vão tomar decisões contra os homens?
Acreditar, não. Mas é de prever que homens de paixões transtornadas as usem em transgressões cada vez mais depravadas e mortíferas. E já estamos a sofrer com esses atos tresloucados.
- E como vê Deus pessoal tais tragédias?
Um fabricante humano destas máquinas não toleraria desmandos das suas criações. O Deus-Amor. Também não. Contudo, Deus cria pessoas livres semelhantes a si; respeita-as para poderem fazer o bem, e sofre se fazem o mal contra a sua lei, mas não anula a liberdade. Grande mistério! Como prevenir o mal feito pelos homens? A liberdade vem de Deus, o abuso dela vem dos homens. E mais quando se deixam endemonizar na tentação e rejeitando a ajuda divina.
- E a ciberguerra será solução para a paz?
De paz fraterna, querida pelo Pai de todos nós, duvido. Não são os instrumentos que dão qualidade à paz, mas os corações e a bondade.
- As crises atuais são também difíceis para as religiões e Igrejas. Estarão em falência?
Questão bem atual. São vasos de barro partidos. Neste estado, torna-se difícil que as ortodoxas, anglicanas, luteranas, possam reparar as fraturas da Ordem de Deus. E a católica, em barro de pecadora, conseguirá? Só nos remédios amargos de penitência e martírio, com oração, há esperança. Infelizmente poucos aceitam remédios amargos. Por irem além da sabedoria presunçosa de uns, dos milagres glico-doces doutros: Só aceitando o Cristo da Cruz e a sua Ordem Mundial se inicia o caminho. O cantor Luciano Ligabue reconhece que: «tem que haver uma linha de justiça que regula o mundo….». E «Alguém que nos pôs aqui», cercados destas crises de guerra. Ele sabe que estamos aqui para fazer e receber a Paz entre irmãos.
Aires Gameiro