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Presidenciais brasileiras de outubro "serão eleições normais, mas tensas"

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FOTO EPA

O analista político brasileiro Antônio Lavareda disse hoje à Lusa que as eleições presidenciais de outubro deste ano no Brasil "não são críticas, mas serão muito tensas".

Para Lavareda, analista e especialista em comportamento eleitoral e 'marketing' político, as presidenciais de outubro "vão ser muito polarizadas", mas essa polarização é, em termos de conceito de Ciência Política, "uma eleição normal e não uma eleição crítica".

"Isso tem a ver com a conceituação do que é crítico. Quando eu me remeto a uma eleição crítica, eu estou utilizando uma categoria da Ciência Política muito específica que tem aquelas classificações. São eleições que ocorrem em cenário de crise social, política, económica, bastante polarização ideológica. E emergência também de candidatos de terceira via", explicou.

Os principais candidatos em outubro são, ao que tudo indica, o ex-presidente Lula da Silva e o atual titular do cargo, Jair Bolsonaro.

Antônio Lavareda falava à Lusa no âmbito da conferência "Os rumos da política no Brasil", organizada pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa e pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), da Universidade Federal de Pernambuco.

"Nessa eleição de agora, vamos por partes, a crise económica, social e política existe, mas não é tão grave como a que tinha existido antes, inclusive precedida por um 'impeachment' [da Presidente Dilma Rousseff], pela substituição da Presidente, pela impopularidade que foi um fator adicional importante para compor aquele quadro. Também não há espaço para candidatos de terceira via, exatamente porque é uma eleição normal, ou seja, previsível em termos de candidaturas", acrescentou.

Outra razão que leva Antônio Lavareda a classificar o escrutínio de outubro como "normal" decorre das duas candidaturas, "ganhando ou perdendo", são as mesmas forças políticas que se enfrentaram na segunda volta em 2018.

"Ela podia ser uma eleição restauradora se, por exemplo, (em 2018) o candidato do PSDB ultrapassasse Jair Bolsonaro e fosse para a segunda volta. Então nós teríamos uma eleição Partido dos Trabalhadores 'versus' Tucanos (PSDB), tal como todas as eleições no período de 1994 a 2014", apontou.

Assim, embora seja a primeira vez que nas presidenciais brasileiras um recandidato ao cargo defronta um antigo Presidente, "não é uma eleição restauradora, mas sim normal".

"Óbvio que uma eleição normal pode ter todo o tipo de tumulto, 'et cetera'. Essa eleição vai ser muito tensa, muito tensa", vincou.

A conferência encerrou com intervenções dos deputados federais Bia Kicis, do Partido Liberal, em representação do 'Bolsonarismo', Orlando Silva, do Partido Comunista do Brasil, em representação do 'Lulismo', e de Eduardo Cury, do Partido da Social Democracia Brasileira, apresentado como representante da terceira via.

Os três deputados federais coincidiram na polarização que rodeia a próxima eleição presidencial, tendo Cury considerado que "o cenário não é muito propício ao centro".

"O centro é incapaz de falar dos problemas reais, de uma forma simples e que chegue ao eleitorado", frisou.

Orlando Silva defendeu que o resultado em outubro "repercutirá na América do Sul" e deu como exemplos as vitórias dos candidatos de esquerda na Argentina, Bolívia e Chile.

"Os ventos que sopram são de mudança. São no sentido do progresso", disse.

Bia Kicis atacou o poder judiciário, designadamente o Supremo Tribunal Federal, que acusou de estar "a desequilibrar a escolha do eleitor brasileiro".

"Fica muito difícil [para Jair Bolsonaro]. As redes sociais, a imprensa, o poder judiciário conspiram para impedir a vitória de Bolsonaro", rematou.