A Guerra Mundo

Scholz defende opção de envio de armas a Kiev e embargo energético

Foto: EPA/FILIP SINGER
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O chanceler alemão asseverou hoje que existe uma grande unidade na sua coligação de social-democratas, verdes e liberais quanto ao fornecimento de armas à Ucrânia e ao embargo energético à Rússia.

Num momento de críticas internas à sua atitude em relação à guerra na Ucrânia, sobretudo quanto às sanções a Moscovo e ao envio de artilharia pesada para Kiev, o chanceler alemão apresentou em Berlim os resultados de um conselho de ministros extraordinário de dois dias, realizado em Meseberg, perto de Berlim, e centrado na invasão russa daquele país.

Scholz passou em revista as medidas do seu Governo para apoiar a Ucrânia e aliviar os efeitos da guerra, na Alemanha e a nível global, numa conferência de imprensa conjunta com o vice-chanceler e ministro da Economia e do Clima, o verde Robert Habeck, e o das Finanças, o liberal Christian Lindner.

Mais uma vez, chamou à guerra um "erro de cálculo" de Moscovo, cujo resultado foi uma NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte) "mais forte" e uma União Europeia "mais unida" e a imposição por muitas democracias de sanções à Rússia, e respondeu às acusações de que tem mantido um rumo político errático, afirmando ter seguido desde o princípio uma linha "precisa".

"Desde o início da guerra, anunciei em público que, ao contrário de antes, estávamos dispostos a fornecer armas", declarou, recordando que Berlim está a enviar não só as que tem no arsenal do seu exército, mas também equipamento bélico comprado especialmente para o efeito, incluído por Kiev nas suas listas de pedidos de ajuda.

Além disso, a Alemanha está disposta a participar num sistema de troca circular, em que os parceiros da Europa de leste enviam para a Ucrânia tanques "russos ou soviéticos" dos seus próprios arsenais, que serão em seguida substituídos por novos enviados por Berlim.

Scholz assegurou, assim, que o seu Governo "está a agir de forma idêntica aos Estados Unidos, Reino Unido, Espanha ou Itália" e que a única diferença é que "o debate está a ser conduzido de forma diferente".

Ainda hoje, a ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, indicou que o Governo está a analisar com os seus aliados o fornecimento de lança-obuses blindados do tipo Panzerhaubitze 2000 a Kiev, além dos cinco já confirmados pelos Países Baixos.

A ministra disse que ainda não tomou uma decisão sobre o envio deste tipo de blindados, acrescentando que, no papel, o Bundeswehr (exército alemão) tem cerca de cem, dos quais apenas cerca de 40 estão operacionais.

"Estamos em conversações com os nossos aliados para ver se podemos aumentar este número de cinco, para oferecer apoio adicional à Ucrânia", ou seja, se outros países, além dos Países Baixos, estão dispostos a fornecer blindados do tipo Panzerhaubitze 2000.

A decisão que foi tomada, anunciou a ministra, é a de que soldados ucranianos poderão receber formação em Idar-Oberstein, no Estado federado da Renânia-Palatinado, para operar estes cinco lança-obuses blindados enviados pelo Governo neerlandês.

O chanceler alemão sublinhou também que, se a Alemanha está agora em condições de apoiar um embargo ao carvão e ao petróleo russos é porque o seu Governo esteve a 'preparar o terreno' desde antes do início da guerra.

"Estaríamos noutra situação em relação à proposta da Comissão Europeia se não estivéssemos a preparar-nos há tanto tempo", observou.

Scholz rejeitou que uma exceção ao embargo europeu para países como a Hungria constitua um "precedente perigoso" e falou, em contrapartida, de uma "continuação pragmática" da política de impor sanções cujo efeito não seja pior para o país que as impõe do que para a Rússia.

"Não serve de nada se as economias colapsarem, mas é claro que espero que outros países intensifiquem esforços", comentou, por seu lado, o titular da Economia e do Clima, Robert Habeck, para quem uma fase de transição até ao final do ano "é suficiente" para estarem preparados, no caso da Alemanha.

Tal não significa que as alternativas ao crude russo possam ser "implementadas de imediato" e que o abastecimento não seja "intermitente" a nível regional, sublinhou Habeck, afirmando que, no entanto, um embargo poderá neste momento ser "suportado pelo país".

O ministro verde recordou igualmente que está a ultimar um projeto de lei para "reduzir ao mínimo previsto pela Europa" os requisitos necessários para autorizar a construção de terminais de gás natural liquefeito, imprescindíveis para que a Alemanha se torne independente do gás russo.

Com a nova lei, que Habeck espera que possa ser aprovada antes do verão, o processo de autorização durará "semanas, em vez de meses ou anos", previu.

Novamente questionado sobre os seus planos para visitar Kiev, Scholz disse que uma viagem não está em cima da mesa neste momento, depois de o Governo do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, se ter recusado a receber o Presidente da República alemão, Frank-Walter Steinmeier.

"Para o Governo e para o povo alemães, é um problema", afirmou o chanceler e indicou que agora Kiev deverá "dar um contributo", através do diálogo com o Presidente Steinmeier.

"É o mais alto representante do nosso país, eleito por uma larga maioria", recordou.

Kiev recusou receber Steinmeier devido à sua suposta "proximidade" de Moscovo. O atual chefe de Estado alemão foi ministro do Governo do chanceler social-democrata Gerhard Schröder (1998-2005) e, em seguida, titular da pasta dos Negócios Estrangeiros em duas legislaturas da conservadora Angela Merkel (2005-2021).

A Rússia iniciou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia -- justificada por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar o país vizinho para segurança da Rússia -, condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

Cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia, e a guerra, que entrou hoje no 70.º dia, causou até agora a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, mais de 5,5 milhões das quais para os países vizinhos, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que a classifica como a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A ONU confirmou hoje que 3.238 civis morreram e 3.397 ficaram feridos, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.