Empresário russo diz ter sido "punido" por dar "opinião" sobre a guerra
O empresário russo Oleg Tinkov, cujas ações do banco Tinkoff foram compradas por um oligarca próximo do Kremlin, disse na terça-feira que foi "punido" por ter dado a sua "opinião", após criticar a guerra na Ucrânia.
"É pena que o meu país acabou afundado no arcaísmo, no paternalismo e no servilismo. Não existe mais Rússia, acabou tudo", escreveu Oleg Tinkov no Instagram.
"E as ameaças contra mim, uma pessoa que luta contra o mais grave cancro de sangue -- a leucemia --, o desejo de me punir apenas pela (...) minha honesta opinião, mostram a desumanização final do regime", acrescentou o homem de 54 anos.
Em 29 de abril, o fundo de Vladimir Potanin, um bilionário russo próximo do Kremlin, anunciou que havia comprado as ações de Oleg Tinkov no banco Tinkoff.
Fundado em 2006 por Oleg Tinkov e um grande sucesso da FinTech nos últimos anos, o banco tornou-se um dos primeiros de retalho do país, além da sua popularidade das suas funções inovadoras, bem como da personalidade atípica do seu fundador.
Alguns dias antes, em 19 de abril, Oleg Tinkov castigou publicamente o conflito russo-ucraniano.
O empresário assegurou no Instagram que "90% dos russos estão contra" a guerra, sublinhando que não via "nenhum beneficiário" daquele conflito "absurdo", onde "morrem pessoas e soldados inocentes".
Numa mensagem, o banco Tinkoff lembrou que o gestor abandonou o cargo de presidente executivo em 2020 e deixou de tomar decisões sobre as operações do grupo, e anunciou um redesenho da marca.
Em entrevista ao jornal norte-americano The New York Times no domingo, Oleg Tinkov falou pela primeira vez após a aquisição, dizendo que teve de fazer "uma venda desesperada", indicando que não conseguiu negociar e agora temia pela sua segurança.
Na terça-feira, no entanto, disse estar grato a Potanin por "resgatar rapidamente" os seus ativos.
"Adeus ao banco Tinkoff, adeus à Rússia. Não tenho mais nada na Rússia. E é mau para a Rússia. Fui um dos poucos que consegui, apesar, e não graças ao regime", acrescentou, lembrando que no seu "auge" a revista Forbes estimou a sua fortuna em 9,4 mil milhões de dólares (cerca de 8,93 mil milhões de euros).
"Eu estava orgulhoso, não da quantidade, mas do facto de que numa Rússia corrupta e arcaica você pode construir um negócio honesto, livre e ao estilo americano", prosseguiu, concluindo que "a Ucrânia vai vencer, porque o bem prevalece sempre sobre o mal".
Em entrevista ao jornal italiano Corriere dela Será na terça-feira, Oleg Tinkov disse que estava a morar na Toscana e confiou a sua proteção aos serviços secretos italianos.
O banqueiro é atualmente alvo de sanções britânicas.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.